terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Antes da Guitarra o Surf





Nos anos 60 descobri o surf. Não lembro exatamente como, devo ter visto surfistas na praia de Copacabana. Lembro que no dentista que meu pai me levava, Dr Amilton, tinham algumas revistas importadas...não de surf, é claro.

Certa vez a capa da revista Stern eram dois surfistas...um negro e um branco, ambos com pranchas vermelho cheguei, surfando uma mesma onda no Havaí. Dentro tinham mais fotos..claro que pedi para ele. Pedi também uma Readers Digest que tinha uma matéria com fotos, sobre surf ...ficava "horas" admirando.
No começo dos anos 70, quando pegava minhas ondas, comprava algumas revistas importadas.. Surfing e Surffer...não creio que houvessem outras.

Antes de criarem as duas pistas, a praia de Copacabana dava ondas boas, mais ou menos entre o final do posto quatro e o começo do posto seis...na altura da Sá Ferreira. Dali em diante era raríssimo ter ondas boas...eu morei ali e não lembro de nenhuma vez que tenha tido. Nesse trecho as ondas eram todas fechadas e pequenas...e quando o mar subia, só no final do posto seis..no forte, dava pra surfar.

O Leme eu não sei...nunca fui pra ver, nem pra surfar e ouvi uma única vez, um cara falando bem de lá...no mais, ninguém tomava conhecimento dessa parte da praia de Copacabana.
O estranho do Leme, me parece que é a posição da pedra. Pelo que lembro, a corrente de Copacabana é enviezada. A ondulação não vem exatamente de frente.
Ela vem meio enviezada no sentido do Leme. Então imagino que ela jogue a onda pra pedra...da uma bagunçada porque a onda vem quebrando na pedra, no sentido oposto...deve fechar...e eu devo estar falando uma grande asneira. 

Quando entravam as ressacas, no meio do posto 5 davam umas ondas grandes e cheias e bem afastado da praia, o que pra mim, um menino ainda, era o Havaí. Esse lugar se chamava Baixio e essas ondas quando chegavam na beira, formavam outras que quebravam como imensos caixotes. Tinham uns doidos que vinham nelas e em vez de sairem no final, entravam nesses caixotes...sempre se dando mal. 



Na foto, ao fundo a esquerda, as famosas ondas do Baixio.
Esta foto foi copiada daqui:   http://www.supcarioca.com.br/2011_05_01_archive.html
  
Existia uma loja de materiais de pesca na Rua Domingos Ferreira, entre a Barão de Ipanema e Bolivar e que tinha uma prancha a venda. Era uma madeirite. Eu não entendia nada e muito menos sabia de que material era feito uma prancha...achava que era madeira mesmo.

Toda vez que passava pela loja, ou seja...todos os dias parava pra namorar a prancha, pois estudava no Colégio Cócio Barcellos e a loja estava em meu caminho pra casa. Terminou que meu irmão a comprou pra mim. Como pesava aquele trambolho.

No primeiro dia que fui pegar onda com ela, o mar estava fraquinho e a maré baixa. Ela embicou e quebrou o bico... tenho pra mim que já estava quebrado. Mais ou menos 1 metro de bico dobrou sobre a outra parte. A prancha que tinha 2 metros e pouco, ficou com um metro e pouco.  Refizemos o bico toscamente e fui tentar surfar de novo... só que agora a frente afundava. Joguei fora!

Agora fica meio escura minha memória. Não lembro se antes da madeirite eu já pegava onda com prancha de isopor, ou se foi depois dela. Acho que me enturmei com uns garotos que pegavam onda com pranchas de isopor...as Planondas. Comecei a surfar com eles.

Nessas pranchas de isopor, além de pintarmos, porque assava a barriga, colocavamos quilhas...mais para parecerem com pranchas de verdade do que por motivos técnicos. Geralmente as quilhas caiam e se perdiam no mar.

Ninguém entrava em ressacas ou quando o mar estava muito alto...eu e todos tinhamos medo. Não dava pra surfar ondas grandes com Planondas...mas dava vontade.

Algum tempo depois lançaram um outro modelo de prancha de isopor.
A Copacabana. Parecia um picolé. Era uma prancha mais veloz e que derrapava. Conseguíamos dar 180 com elas...uma meia girada.

Tinha também a lojinha Magno, que ficava na Francisco Sá, já chegando em Ipanema... creio que a única que era especializada em artigos para surf.

Descobri o Arpoador e adorei aquele lugar. Virou meu point.
Pegavamos onda em meio aos surfistas de verdade e não existia conflito..até porque os respeitavamos mais que outra coisa.

Foi sendo construído o Pier de Ipanema. No começo só davam ondinhas e quem ia lá pegar eramos nós, os surfistas de isopor. Mas logo a coisa começou a mudar e os surfistas de verdade se apoderaram do lugar.

Nasceu as dunas do barato.
Não me lembro de ter visto a Gal Costa, ou outro baiano qualquer por lá, mas associam o Pier a ela..tudo certo.

O Pier era um crowd só...as ondas eram muito boas e nunca estava vazio. Surfei muito pouco por lá por causa disso. A prática do surf estava crescendo. Fiquei eu e os caras que conhecia, pelo Arpoador mesmo.

Comprei minha primeira prancha de verdade. Uma Bravo bem baleada.
A comprei de um garoto que conheci, chamado Ítalo...pouco tempo depois, ele me contou meio triste que iria se mudar para o Guarujá.
Depois dessa, tive uma pranchinha que foi a minha melhor.
Todo mundo que pegava onda nela adorava. Shape do Ricardo Wanderbilt, um tal Fabinho a encapou...era a informação que eu tinha! Ela era boa pra vários tipos de onda.. encarava ondas maiores, valente que só. Tinha 1.90, a quilha com um colorido psicodélico e rabeta diamante. Era branca e amarela e tinha um desenho no lado esquerdo, de uma onda e escrito...hand made.

Essa prancha ao mesmo tempo que era o meu prazer, era o meu desprazer também. Tinha um cara chamado Zeca Proença, irmão ou primo do Paulinho Proença, que era tipo um parasita. Ia a praia e não levava prancha. Então sempre que o mar estava bom, ele aparecia e tomava a prancha de mim, me ameaçando. Eu era um garoto bobão e medroso e aceitava calado...morrendo de vontade de acertar uma pedrada na cabeça dele. Perdi os melhores mares da minha vida por causa desse sujeito.

Depois dela tive uma Tito com pintura psicodélica e ótima para ondas pequenas e por último, uma outra também feita pelo Ricardinho Wanderbilt. Uma mini gun. A quilha dela não ficou 100% centrada, então ela fazia uuuuu quando eu descia nas ondas maiores. A primeira vez que fez esse U, foi na Prainha. levei um susto e quase caí. O bom é que era uma prancha meio difícil, então tinha que estar acostumado com ela, daí poucos amigos me pediam emprestado e eu peguei muita onda com ela.
Perdi uma vez um mar fantástico, não lembro o motivo exatamente..acho que eu não tava me sentindo bem, aí entrei só um pouco e saí e deixei ela com um amigo surfando...o Índio..Arthur. O cara que era fã do Moody Blues entre outras bandas.

No final de 1972, a loja Brekelé patrocinou o 1º Campeonato de Surf do Pier de Ipanema. Primeiro e único.
O poster mostrado no começo, consegui na loja.

Me inscrevi mas não participei. O tempo virou e o mar subiu. Normalmente quando o mar sobe, ele só fica bom para o surf no dia seguinte..ou depois. Deduzi assim e o dia chuvoso me influenciou mais ainda...mas os organizadores resolveram fazer, independente da qualidade das ondas e do tempo estar feio. E eu nem fui pra praia. Depois me falaram que meu nome foi anunciado em uma bateria... perdi.

Logo depois, um conhecido (Paulo Pantera) me perguntou se eu queria trocar minha prancha por uma guitarra... ele precisava da prancha para trocar por uma moto Leoneti. Trocamos e fui com ele ver a moto. Tava toda desmontada e a troca não foi feita.
Ele ainda tentou desfazer o negócio comigo mas não aceitei. Eu já era fã de rock, já tinha começado a arranhar um violão e tava querendo uma guitarra...

E acabou a minha história como surfista, mas não a paixão por esse esporte e uma vez na vida outra na morte, arrumo uma prancha emprestada e tento pegar umas marolas.
Surf é como bicicleta. Você perde a prática, mas não esquece como surfar.  



8 comentários:

  1. ADOREI AMIGO MUITO SHOW! MANEIRO RELEMBRAR TUDO ISSO.

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    1. Obrigado, minha amiga! Eu também estou gostando de relembrar essas coisas...é um bom exercício pra memória rs

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  2. Hoje vi um programa do Canal Off chamado "70 e tal" que fala justamente sobre o pier e isso que você descreve no posto. Lembrei de você:
    http://canaloff.globo.com/programas/70-e-tal/videos/2897799.html

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  3. À propósito, quanto você quer pelo poster? rs

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  4. rs, já pensei mesmo em vender, mas aí entra aquela coisa de passado, memórias... e deixo ele quieto guardado. Eu tinha 2...dei o outro para um amigo...pena que vc não chegou antes rs

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  5. Sobre esse documentário do canal OFF, eu vi tb. Gostei muito e em relação as pranchas, achei interessante surfistas de hoje pegando onda com elas. Deu pra ver, apesar de essas pranchas não responderem tão bem as manobras atuais, como as pranchas de hoje fazem diferença também. Apesar de eu ser digamos...das antigas, gosto mais do surf de hoje...é mais radical. Lembrei de muita coisa vendo este programa...ajudado pelas imagens antigas.

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  6. Curioso que nas fotos mostradas pelo documentário não vi ninguém com barriguinha, pneu, nada de gordura localizada. As meninas e os caras eram bonitos naturalmente, sem neura de malhação ou de emagrecimento exagerado também. Todos me pareciam muito saudáveis!

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  7. Parece que tem a ver com as comidas...o tal hamburguer rss
    Mas realmente, eu pelo menos, não lembro dessa paranóia que existe hoje com o corpo "perfeito"...o pessoal tinha outros interesses.

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