Histórias


Antes da Guitarra o Surf



Nos anos 60 descobri o surf. Não lembro exatamente como, devo ter visto surfistas na praia de Copacabana. Lembro que no dentista que meu pai me levava, Dr Amilton, tinham algumas revistas importadas...não de surf, é claro.

Certa vez a capa da revista Stern eram dois surfistas...um negro e um branco, ambos com pranchas vermelho cheguei, surfando uma mesma onda no Havaí. Dentro tinham mais fotos..claro que pedi para ele. Pedi também uma Readers Digest que tinha uma matéria com fotos, sobre surf ...ficava "horas" admirando.
No começo dos anos 70, quando pegava minhas ondas, comprava algumas revistas importadas.. Surfing e Surffer...não creio que houvessem outras.

Antes de criarem as duas pistas, a praia de Copacabana dava ondas boas, mais ou menos entre o final do posto quatro e o começo do posto seis...na altura da Sá Ferreira. Dali em diante era raríssimo ter ondas boas...eu morei ali e não lembro de nenhuma vez que tenha tido. Nesse trecho as ondas eram todas fechadas e pequenas...e quando o mar subia, só no final do posto seis..no forte, dava pra surfar.

O Leme eu não sei...nunca fui pra ver, nem pra surfar e ouvi uma única vez, um cara falando bem de lá...no mais, ninguém tomava conhecimento dessa parte da praia de Copacabana.
O estranho do Leme, me parece que é a posição da pedra. Pelo que lembro, a corrente de Copacabana é enviesada. A ondulação não vem exatamente de frente.
Ela vem meio enviesada no sentido do Leme. Então imagino que ela jogue a onda pra pedra...da uma bagunçada porque a onda vem quebrando na pedra, no sentido oposto...deve fechar...e eu devo estar falando uma grande asneira. 

Quando entravam as ressacas, no meio do posto 5 davam umas ondas grandes e cheias e bem afastado da praia, o que pra mim, um menino ainda, era o Havaí. Esse lugar se chamava Baixio e essas ondas quando chegavam na beira, formavam outras que quebravam como imensos caixotes. Tinham uns doidos que vinham nelas e em vez de saírem no final, entravam nesses caixotes...sempre se dando mal. 



Na foto, ao fundo a esquerda, as famosas ondas do Baixio.
Esta foto foi copiada daqui:   http://www.supcarioca.com.br/2011_05_01_archive.html
  
Existia uma loja de materiais de pesca na Rua Domingos Ferreira, entre a Barão de Ipanema e Bolívar e que tinha uma prancha a venda. Era uma madeirite. Eu não entendia nada e muito menos sabia de que material era feito uma prancha...achava que era madeira mesmo.

Toda vez que passava pela loja, ou seja...todos os dias parava pra namorar a prancha, pois estudava no Colégio Cocio Barcellos e a loja estava em meu caminho pra casa. Terminou que meu irmão a comprou pra mim. Como pesava aquele trambolho.

No primeiro dia que fui pegar onda com ela, o mar estava fraquinho e a maré baixa. Ela embicou e quebrou o bico... tenho pra mim que já estava quebrado. Mais ou menos 1 metro de bico dobrou sobre a outra parte. A prancha que tinha 2 metros e pouco, ficou com um metro e pouco.  Refizemos o bico toscamente e fui tentar surfar de novo... só que agora a frente afundava. Joguei fora!

Agora fica meio escura minha memória. Não lembro se antes da madeirite eu já pegava onda com prancha de isopor, ou se foi depois dela. Acho que me enturmei com uns garotos que pegavam onda com pranchas de isopor...as Planondas. Comecei a surfar com eles.

Nessas pranchas de isopor, além de pintar, porque assava a barriga, colocávamos quilhas...mais para parecerem com pranchas de verdade do que por motivos técnicos. Geralmente as quilhas caiam e se perdiam no mar.

Ninguém entrava em ressacas ou quando o mar estava muito alto...eu e todos tinhamos medo. Não dava pra surfar ondas grandes com Planondas...mas dava vontade.

Algum tempo depois lançaram um outro modelo de prancha de isopor.
A Copacabana. Parecia um picolé. Era uma prancha mais veloz e que derrapava. Conseguíamos dar 180 com elas...uma meia girada.

Tinha também a lojinha Magno, que ficava na Francisco Sá, já chegando em Ipanema... creio que a única que era especializada em artigos para surf.

Descobri o Arpoador e adorei aquele lugar. Virou meu point.
Pegava onda em meio aos surfistas de verdade e não existia conflito..até porque todos os surfistas mirins os respeitavam.

Foi sendo construído o Pier de Ipanema. No começo só davam ondinhas e quem ia lá pegar eram os surfistas de isopor...nós. Mas logo a coisa começou a mudar e os surfistas de verdade se apoderaram do lugar.

Nasceu as dunas do barato.
Não me lembro de ter visto a Gal Costa, ou outro baiano qualquer por lá, mas associam o Pier a ela..tudo certo.

O Pier era um crowd só...as ondas eram muito boas e nunca estava vazio. Surfei muito pouco por lá por causa disso. A prática do surf estava crescendo. Fiquei eu e os caras que conhecia, pelo Arpoador mesmo.Que também não deixou de ser surfado pelo pessoal do Pier... o mar estando bom...

Comprei minha primeira prancha de verdade. Uma Bravo bem baleada.
A comprei de um garoto que conheci, chamado Ítalo...pouco tempo depois, ele me contou meio triste que iria se mudar para o Guarujá.
Depois dessa, tive uma pranchinha que foi a minha melhor.
Todo mundo que pegava onda nela adorava. Shape do Ricardo Wanderbilt, um tal Fabinho a encapou...era a informação que eu tinha! Ela era boa pra vários tipos de onda.. encarava ondas maiores, valente que só. Tinha 1.90, a quilha com um colorido psicodélico e rabeta diamante. Era branca e amarela e tinha um desenho no lado esquerdo, de uma onda e escrito...hand made.

Essa prancha ao mesmo tempo que era o meu prazer, era o meu desprazer também. Tinha um cara chamado Zeca Proença, irmão ou primo do Paulinho Proença, que era tipo um parasita. Ia a praia e não levava prancha. Então sempre que o mar estava bom, ele aparecia e tomava a prancha de mim, me ameaçando. Eu era um garoto bobão e medroso e aceitava calado...morrendo de vontade de acertar uma pedrada na cabeça dele. Perdi os melhores mares da minha vida por causa desse sujeito.

Depois dela tive uma Tito com pintura psicodélica e ótima para ondas pequenas e por último, uma outra também feita pelo Ricardinho Wanderbilt. Uma mini gun. A quilha dela não ficou 100% centrada, então ela fazia uuuuu quando eu descia nas ondas maiores. A primeira vez que fez esse U, foi na Prainha. levei um susto e quase caí. O bom é que era uma prancha meio difícil, então tinha que estar acostumado com ela, daí poucos amigos me pediam emprestado e eu peguei muita onda com ela.
Perdi uma vez um mar fantástico, não lembro o motivo exatamente..acho que eu não tava me sentindo bem, aí entrei só um pouco e saí e deixei ela com um amigo surfando...o Índio..Arthur. O cara que era fã do Moody Blues entre outras bandas.

No final de 1972, a loja Brekelé patrocinou o 1º Campeonato de Surf do Pier de Ipanema. Primeiro e único.
O poster mostrado no começo, consegui na loja.

Me inscrevi mas não participei. O tempo virou e o mar subiu. Normalmente quando o mar sobe, ele só fica bom para o surf no dia seguinte..ou depois. Deduzi assim e o dia chuvoso me influenciou mais ainda...mas os organizadores resolveram fazer, independente da qualidade das ondas e do tempo estar feio. E eu nem fui pra praia. Depois me falaram que meu nome foi anunciado em uma bateria... perdi.

Logo depois, um conhecido (Paulo Pantera) me perguntou se eu queria trocar minha prancha por uma guitarra... ele precisava da prancha para trocar por uma moto Leonette. Trocamos e fui com ele ver a moto. Tava toda desmontada e a troca não foi feita.
Ele ainda tentou desfazer o negócio comigo mas não aceitei. Eu já era fã de rock, já tinha começado a arranhar um violão e tava querendo uma guitarra...

E acabou a minha história como surfista, mas não a paixão por esse esporte e uma vez na vida outra na morte, arrumo uma prancha emprestada e tento pegar umas marolas.
Surf é como bicicleta. Você perde a prática, mas não esquece como surfar.  


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Gigs na TV E


Andei fazendo umas gigs na TVE do Rio de Janeiro. Algumas como músico e outra trabalhando como vocalista em um programa que ensinava inglês... minha memoria como sempre não é essas coisas, mas creio que o nome do programa era "I Love You" e a apresentadora se chamava Marcia...linda e super simpática.

Eu e mais duas pessoas, cantávamos as músicas apresentadas fingindo ser as vozes dos alunos...que eram desafinados paca.

Um amigo antigo que trabalhava lá, (Marcelo Paschoal) com quem eu fazia todo o tipo de gig e também me arrumava os bicos na TVE como músico, tentou me colocar como contratado da casa.
Meu teste foi com um cantorzinho de noite metido a besta.

Estavam eu e a banda da casa esperando no estudio, aí entra o tal cantor e fala:

- A música que vou cantar é "Vida" do Chico Buarque.

Sem partitura, cifra ou o que fosse.

Todos se olharam com aquele olhar de.. "vai dar merda"...mas como eu era o único que estava sendo testado...

Tocando na noite, você começa a perceber que a mpb mais comum se repete a exaustão. O samba se repete muito, entre outros estilos. São como fórmulas que você só pelo ouvido vai deduzindo para onde vai a harmonia...e isso termina servindo para outros tipos de música, as vezes não tão óbvias. Você termina pegando essas manhas. O rock and roll basico, assim como o blues, também são assim...tem suas fórmulas.

Só que...a maioria das músicas do Chico Buarque não são dessas...não são óbvias.
São harmonias cabeludas, caminhos diferentes e não da para pensar de forma simplista...agora vai pra tal acorde, volta naquela parte...
Você precisa da partitura/cifra...conhecendo ou não a música.
E detalhe...esta música nem é das mais difíceis dele.

Tentamos a primeira vez e empaquei. Tentamos a segunda...de novo.
Pelo ouvido eu imaginava...agora deve ir pra... mas não ia.

A banda nem arriscava acompanhar...ninguém sabia o raio da harmonia... me disseram depois...aliás, ficaram todos pau da vida com o tal cantor.

Na terceira tentativa, Fernando Lobo, que era o produtor ou algo assim do programa, saiu da sala da técnica, veio até mim, cruzou os braços a meio metro de distância...ou seja..na minha cara, e mandou começar de novo. Aí ferrou de vez...eu já nervoso e ainda com o chefão na minha frente feito uma estátua esperando o resultado...dancei.

Se o Fernando Lobo (já falecido, pai do Edu lobo) fosse mais criterioso..afinal era músico, compositor.... teria visto que o tal cantor é que era um idiota e estava querendo aparecer, pedindo uma música que qualquer músico que não a conhecesse e mesmo se conhecesse...como era o meu caso... sem as partes, fatalmente se enrolaria.

E se alguém disser que toca qualquer música (incluindo as do Chico Buarque) nesses moldes, correndo atrás, eu desafio a tocar uma minha sem partitura ou cifra...correndo atrás também. Até deixo ouvir primeiro, depois conto e começo..dou apenas o tom. Quero ver quem se aventura e acerta....e olha que as minhas músicas são infinitamente mais simples que as do Chico.

Saímos da TVE e fomos para o bar ao lado...o assunto era o mesmo...foi onde me disseram que ninguém sabia tocar a música.

Eis que entra o tal cantor, me vê e fala com o cara que esta com ele, de forma que eu e os outros ouvíssemos:

"músico de verdade tem que tocar qualquer coisa"

Aí vimos que ele não era um cantor de verdade.

Me tiraram dali antes que eu tacasse a guitarra com case e tudo na cara dele.


"músico de verdade tem que tocar qualquer coisa"
...balela igual a
"o músico brasileiro é o melhor músico do mundo"

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Canja?  Não...ok?


Nunca fui muito chegado a canjas, primeiro e principalmente porque não gosto de pedir instrumento emprestado.. geralmente nessas situações você não conhece o dono do instrumento e muito menos ele a você.. e porque também não gosto de emprestar o meu...assim como não conheço alguém que goste. Só quem já se aborreceu com isso sabe.

No caso de dar a canja...quando são jams livres tudo certo, mas normalmente é pra tocar alguma musiquinha xexelenta que você já não aguenta mais. Pro cantor aparecer é ótimo, pra você que será o figurante, aquela ladainha é um saco!

Tem uns caras por aí que adoram dar essas canjas e claro, ficam irritadíssimos quando negamos o instrumento. Mas vá pedir o instrumento dele para uma canja e veja se ele te empresta.

Alguns são tão cara de pau, que recusam ou ficam P... se você
não quiser emprestar seu instrumento de fé, mas um outro que esteja contigo.
Já aconteceu mais de uma vez comigo.

As vezes eu levava duas guitarras para tocar e usava ambas realmente, conforme a música. Só que uma era minha Fender 69 e a outra uma Telecaster feita por um luthier. A Fender com singles e a Tele com humbuckings...era evidente que eram instrumentos com sons diferentes e que se eu usava ambas (ou qualquer outro que fosse o dono) era porque prestavam...e quem ouvia a Tele elogiava, dizia que ela falava muito e o timbre era muito bom...essas coisas.

Então o bicão vinha me pedir, eu falava ok e dava a Tele, é claro!
Acredita que um distinto uma vez fez cara feia e ainda teve a petulância de falar...ahh, com essa não..quero a Fender.

Ficou sem a canja porque aí eu simplesmente ignorei o cara, não emprestei mais e que se dane.

Mas minha bronca maior com canjas é que já tive vários prejuízos.

Listando.
 
Minha primeira guitarra importada foi uma Gibson SG Standard 1973.
Linda, novinha, com aquele acabamento sensacional das Gibsons.
Era de uma cor marrom acinzentada que nunca vi outra igual, sobre a madeira aparente.
Tava em uma festa dessas que rolam jams. Um lugar escuro cheio de malucos tocando e dançando. Em determinado momento, um cara que eu conhecia de nome e de vista e que tinha fama de que tocava bem, chamado Egídio ou Ernesto..não lembro mais...e que morava perto de mim no posto 6 em Copacabana...ou pelo menos vivia por lá...me pediu emprestado. Relutei um pouco mas baseado nesse histórico do cara, emprestei.

Tenho 99% de certeza que foi ou por maldade ou por inveja, pois naquela época nem todo mundo tinha uma guitarra importada.

Ele estava com um relógio daqueles cuja corrente é toda de metal...mas não em seu braço direito...enfim...emprestei a guitarra e fiquei curtindo a festa. Ele deu lá a canja dele, tocou algumas músicas e eu fui pedir a guita.
Nessa hora reparei que o tal relógio estava em sua mão direita, mas não fiquei pensando ou achando nada...jamais me passaria pela cabeça algo ...hoje já não agiria assim.

No final da festa quando fui limpar a guitarra pra guardar, notei algo diferente no corpo dela...exatamente na região onde fica nosso pulso e antebraço. Levei em um lugar mais iluminado e tinha um mapa de riscos no verniz..vi aquilo, me deu uma tristeza e raiva imensas mas tive que engolir o sapo...nem vi mais o cara na festa.


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Em 1986 estava ganhando uns trocados em Ubatuba tocando em um barzinho com um cara. Chegou um senhor e começou a me encher o saco pedindo para eu emprestar pro filho dele dar uma canja, que era um garoto novo e tocava bem, mas não tinha experiência nenhuma em tocar em público e bla bla bla.... Tanto insistiu que emprestei.

O garoto ficou lá solando e usando aquela técnica de bater com a palheta na corda, no braço da guitarra. Até aí tudo bem...nunca vi ninguém estragar um instrumento assim.
Deu a canja dele, me devolveu a guitarra, o pai agradeceu muito e sumiram.
Era o intervalo..na volta, no primeiro blend que dei na altura do final do braço, senti a corda prendendo e arranhando. Acabou a música e corri pra olhar...um dos trastos estava com uns 3 ou 4 riscos.

Depois conversando com meus amigos, a dedução que chegamos foi que o garoto deve ter batido com a palheta na corda, exatamente em cima do trasto e isso deve ter funcionado como um martelinho.

Pra eliminar aquilo, peguei uma lixa fina e alisei parcialmente os riscos.

Este foi o início da derrota da minha Fender. Ainda toquei um bom tempo com ela assim, até que resolvi levar em um luthier no Rio para trocar os trastos, pois lixar todos eles não ia mais prestar.
....e o bendito luthier.....uma óva..maldito luthier... fez seguramente a maior cag... de sua vida. Destruiu a escala da minha Fender.


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A Tele... mandei pintar de vermelha e ficou lindona! Estreei a guitarra no mesmo dia em um bar que estava tocando na Barra da Tijuca. Um amigo meu guitarrista que sempre ia lá, me pediu pra dar uma canja. Tranquilo...emprestei a guitarra.
Quando acabou a canja, vi que ele estava usando um cinto com aquelas fivelonas...antes não tinha notado isso.
Virei o corpo da guitarra e... todo arranhado...quase tive um treco.
Sei que não foi por maldade, mas será que ele teria o mesmo descuido com a guitarra dele?

E o prejuízo como sempre...meu!

Emprestar e me devolverem com cordas arrebentadas? Comum.

Por essas e outras, ha um bom tempo não empresto mais e que se dane quem ficar de cara feia.

Um adendo.:

Em um show meu no bar Let It Be, no ano de 1983, no final do show alguém me pediu uma canja para um amigo que tocava gaita. Eu fingia que tocava gaita em um blues. Na realidade usava a gaita pra afinar a guitarra e brincava nesse blues com metade dela..não sabia mesmo o que fazer com a outra metade da gaita...e não sei até hoje.

Então o cara subiu e lembro bem que se chamava Carlito. Perguntei o tom e ele me disse..Do
Tocamos em dó e ficou uma porcaria...ele não se entendia direito, é óbvio, pois a gaita era em dó mas o acompanhamento teria que ser em Sol...como ele disse Do..tocamos em Do.

Eu quando estou no palco, fico meio que absorvido por isso e não consigo pensar direito quando o assunto foge do que estou fazendo, ou tenho que fazer. Minha gaita também era em dó e eu sabia que a harmonia tinha que ser tocada em Sol. Na hora nem lembrei disso e também vendo que ele era gaitista, não me passou nada pela cabeça.

Esse show foi gravado toscamente com um gravador k7 e no outro dia em casa, ouvindo foi que atentei.

Putz...a gente tinha que ter tocado em Sol pra dar certo.

Porque ele falou que era Do...será que não sabia que se a gaita é em Do, tocamos em sol, se é Mi, tocamos em Si... ?

Ficou esse mal estar como se eu tivesse tentado sacanear o cara, mas a verdade é esta e a fita k7, que ainda existe, prova isso. Ta lá a banda tocando em Do.  

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Frequências ocultas

Se um guitarrista ouve algo que um engenheiro (técnico de som) diz ser impossível, aposte no guitarrista.

Isto foi dito por Por Craig Anderton.
link http://www.harmony-central.com/articles/tips/guitar_cords/

Sem querer me gabar, eu tenho um ouvido não absoluto, mas clínico para ouvir coisas que outras pessoas não ouvem de primeira...e as vezes mesmo eu mostrando continuam sem ouvir. É um dos motivos dessa coisa do timbre me azucrinar tanto. Eu ouço!

Um amigo meu, Sergio Izeckshon... músico, baixista, compositor, professor formado, dono de estúdio e que também da aulas de Home Estudio... uma vez disse. "O Fernando escuta coisas que só ele escuta".
Isso foi depois de comprovar algo que eu ouvia e ninguém na sala de gravação tinha percebido.

Ele tinha uma banda chamada Operação Rio, da qual eu também participava.
Cheguei no estúdio e estavam ouvindo a gravação de voz de uma determinada música.
Depois de ouvir eu falei pro cantor:

"Que barato isso que você faz com a voz algumas vezes"

Aí ele me perguntou surpreso o que era.

Sergio soltou a música e eu mostrei.

O cantor em alguns momentos, fazia algo que parecia ter um phase na voz.

Mostrei e ninguém ouviu nada. Mostrei outras vezes até que o Sergio também percebeu..e assim foi sucessivamente, os outros músicos começaram a perceber também. O cantor ficou pasmo e disse não saber como tinha feito aquilo...foi aí que o Sergio disse a tal frase.

Portanto...quando um guitarrista (que perceba essas coisas, é claro) ou o músico que for, disser que esta ouvindo algo...não pense que ele é maluco...você é que pode ser meio...sei lá.. surdo.

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Dividindo o mesmo show


Em shows divididos, você vê e confirma como os músicos são desunidos e se puderem te sacanear, sacaneiam mesmo.

Sempre que toquei em shows assim, respeitei o tempo que me cabia, dei toques para outros músicos caso notasse algo errado e também sempre fiz questão de após acabar o meu show, desmontar minhas coisas e sair o mais rápido possível do palco para que quem viesse tocar depois, montasse seu set com tranquilidade e sem tanta correria, pois sei que além da parte técnica e prática da montagem...cabos, pedais, amp, quando é o caso... tem também uma que normalmente demanda tempo.
Timbrar decentemente seu instrumento.

Eu faço isso relativamente rápido pela experiência e porque também uso pouca coisa...mesmo assim, timbrar nunca é tão rápido quando você não esta usando o seu set e não tem tempo de fazer isso na passagem de som...quando tem passagem de som.

Uma vez dividindo um show, a outra banda nos pediu para abrir porque alguém da banda deles teria que sair cedo, sei lá porque motivo. O combinado era que nós abriríamos o show.

Beleza..a contra gosto concordamos. A contra gosto porque 90% do público que estava lá era para vê-los, então teoricamente iríamos tocar para uma casa quase vazia. Mas aceitamos..afinal eram nossos "amigos" e estavam com esse problema.

Começou o show deles, demorou pra acabar... até que terminou.
Fui para o lugar aonde eu iria montar minhas coisas e o tecladista estava lá paradinho sem sequer enrolar um cabo, todo sorridente conversando com seus amigos.

Falei com o cara e não me deu atenção. Ficou uns 5 a 10 minutos até começar a desligar suas coisas...e levou mais outro tanto de tempo pra fazer isso tudo e finalmente liberar o palco pra mim.
Desrespeito geral...não só comigo mas com o público que ainda estava lá.
Minha vontade nessas horas é pegar as coisas do sujeito e jogar tudo pra fora do palco...incluindo ele.

Tocamos para um público em sua maioria desinteressado e depois que acabou o nosso show, vimos que o tal músico que precisava sair mais cedo estava lá...não teve que ir embora porcaria nenhuma..tudo mentira. Todos mui amigos.

Esse é apenas um exemplo...existem vários, incluindo sabotagens em aparelhos de uso comum no palco... tem que ficar ligado.

Depois de um tempo a gente aprende ao menos a não ser tão simpático.

Se tiver outra banda pra tocar, eu continuarei a sair rápido do palco, não me interessa atrasar o lado de ninguém.
Agora...amiguinho, bonzinho, otário....

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1984 


Causos em Volta Redonda

Em 1984 fui morar em Volta Redonda, interior do Rio de Janeiro. Lá, entre outros, toquei em uma banda de baile chamada Cravo e Canela. Fazíamos muitos bailes pelas cidades das redondezas e do interior do Rio e de Minas. Em uma delas, um lugarejo que não lembro mais o nome e que também não sabíamos exatamente onde ficava e nos guiaríamos pra chegar com um mapa feito a mão, quase o bicho pega.

Atrasamos na saída e quando entramos na estradinha de terra que nos levaria ao lugar onde ia ter uma feira agropecuária, já estava escuro. A tal estrada era pelo meio de fazendas e confuso o caminho, daí que toda casinha que a gente via, tentávamos nos informar se era o caminho certo. A maioria das pessoas não sabia. E fomos nós.

Um furgão com a aparelhagem, instrumentos e metade da banda. Paulinho e Carlos Roberto, cantores, Bilau, tecladista e multi-instrumentista, Mauro, guitarrista e mais dois carregadores, se não me engano. 
E em um carro de passeio foram: João, gente muito boa, dono da aparelhagem, técnico de som, carregador, empresário, motorista.... Durval, baixista. Roberto, baterista e eu.
Em determinado momento, o carro do João (algo da Ford..acho que era um Corcel 2) começou a ratear..perder força. Paramos, olhamos e não descobrimos nada...já estava um breu dos diabos e não tínhamos lanterna.

Fomos assim mesmo, na esperança de achar algum lugar onde pudéssemos dar uma olhada melhor no carro. Claro que não existia esse lugar naquele fim de mundo.
Em determinado momento, depois de outras paradas, vimos que não iríamos longe e nos separamos. O furgão iria na frente para o pessoal ir montando a aparelhagem, que incluía o PA e nós no anda e para, rezando pra chegar ou encontrar civilização.

Numa dessas paradas, cruzamos com uma pick-up que vinha em sentido oposto. O cara parou uns 10 metros da gente, com o farol alto na nossa cara. João foi até eles e explicou o que acontecia. A resposta que recebeu foi direta. Teu carro é Ford, o meu é Chevrolet...tira da frente que eu quero passar. João voltou até a gente e nos contou...era até compreensível. Na pick-up iam o motorista, uma mocinha que parecia ser sua filha e atrás na caçamba, um cara que parecia armado e com pinta de jagunço. Nós, 4 marmanjos...quem pararia ali pra ajudar?

Eles se foram e nós tivemos que ficar ali..onde passamos a noite cabreiros e preocupados com o resto da banda, sem saber se tinham chegado, se conseguiriam fazer o baile sem a gente...e do lado deles, a mesma coisa...chegaríamos, não chegaríamos...

Dormimos do jeito que deu dentro do carro e de manhã cedinho, descobrimos o que aconteceu. Uma mangueira tinha se soltado e nessa arrancou dois cabos de vela. João deu lá o jeito dele (na realidade a mangueira estourou, me parece...não manjo grandes coisas de carros) e seguimos viagem.

Conseguimos chegar no lugar. Um vilarejo, uma vila...sei lá o que era aquilo. Tinham algumas casas, o galpão onde tocamos e alguns currais. Armaram umas tendas e eram os bares..bem rústico o treco. O resto da banda nos recebeu e contou como tinha sido a noite.
Chegaram tarde, estava cheio o lugar e com o povo já reclamando. Montaram tudo e tocaram do jeito que deu.

Nesses lugares o povo leva a sério os compromissos e quebram tudo se a outra parte não cumpre...incluindo as pessoas.

Fizeram um apanhado, Paulinho pegou no baixo..cada um se virou como sabia e bem ou mal, rolou o baile...que acabou cedo porque teve porrada entre o público. Eles foram ameaçados também...me parece que o baile não foi muito bom.

O dia foi passando, as pessoas circulavam pelo lugar e volta e meia cruzavamos com algum mal encarado querendo arrumar confusão conosco...ignorávamos, é claro. O segundo baile, acho que pela tensão que estava no lugar, não lembro se foi bom, ruim...mas parece que também teve bafafá no final ou no meio.

No dia seguinte, já com tudo guardado no furgão, como a fome era negra e não tinha nada para comer, fomos filar leite onde estavam ordenhando umas vacas. O guloso aqui bebeu uma caneca que devia ter quase um litro. 10 minutos depois eu já estava daquele jeito e muito agradecido por ter banheiro no lugar.

Fomos embora. No primeiro posto de gasolina que encontramos, tinha também um restaurante. Entrei correndo e gritando...onde é o banheiro, onde é o banheiro..

Seguimos viagem e se não me engano, pois não lembro de nada com precisão, paramos em Além Paraíba para consertar o carro. Tivemos que passar o dia lá e eu virei cliente do banheiro da rodoviária. Era pago, mas o cara que tomava conta viu meu drama e me deu passe livre para sempre que precisasse... de 15 em 15 minutos eu ia visita-lo. Chegamos de noite em Volta Redonda.




Em uma outra viagem, fomos tocar em um lugar..remoto também..e cuja estrada de terra era cheia de precipícios. Se eu durmo, não estaria aqui pra contar. Tocamos, foi tudo certo, desmontamos tudo e carregamos no ônibus.
O João também tinha um ônibus e geralmente íamos nele.
O dia começou a raiar e fomos embora. Todo mundo apagou menos eu, pois tenho dificuldade de dormir sentado.
Deitado eu apago lindamente.

Sentei naqueles bancos sozinhos na frente e fomos. Em determinado momento, reparei que o ônibus parecia querer sair da estrada. Olhei pro João e ele estava lá..impassível dirigindo. Alguns minutos depois, a mesma coisa...e era só pirambeira. Olhei de novo pro João...ele com os olhos abertos e o ônibus querendo subir no relevo de terra da beira da estrada...e de lá seria o abismo. Falei com ele e não me respondeu..aí me toquei...ele estava dormindo de olhos abertos...puro cansaço. O acordei e a todo mundo. "Galera, o João ta dormindo de olho aberto...ninguém mais dorme nessa p...."

Chegamos sãos e salvos.

  


Essa é vergonhosa mas não deixa de ser engraçada.
Fomos tocar, pra variar em mais uma cidadezinha no fim do mundo. Um lugarejo no topo de uma espécie de vale. Pra chegar lá também era sinistro. Infelizmente não lembro do nome da maioria dos lugares...mas enfim. Fizemos o baile e me engracei com uma mocinha da região. Quando o baile acabou, saí e a encontrei do lado de fora..estava na porta do lugar e ali ficamos conversando.

De repente, na nossa frente estourou uma briga generalizada. Entrei rapidinho, fechei a porta e fui falar com o resto da banda o que estava acontecendo....aí lembrei... "cacete...deixei a garota do lado de fora". Corri e achei a coitadinha apavorada, colada na porta feito uma lagartixa...e a pancadaria continuava comendo solta na rua. Puxei ela pra dentro, fiz cara de paisagem... que desculpa eu ia dar?
Não ganhei nem um beijinho que fosse.




Essa banda de Volta Redonda tinha bons músicos e um deles, Bilau, o tecladista..já falecido.. era também multi-instrumentista. Ele tinha uma Fender Strato de 1968 que eu babava. Eu tinha uma 69 e pude comparar. Eram instrumentos bem diferentes. Gostei mais da 68..tinha o som mais gordo..as 69 são mais clean e brilhantes...o braço também era mais gostoso. Gosto de um braço mais gordo e o dela era assim.
Ele não dava bola pra guitarra, até porque não tocava mais e tenho certeza que se eu lhe oferecesse em troca alguma Ibanez.. na época as Ibanez estavam em alta... ele trocaria comigo.

Eu tinha descascado a minha strato toda..ela estava soltando a tinta e eu achava feio, porque não ficava a madeira aparecendo e sim uma camada de massa que tinha por baixo da pintura. Então como eu queria pinta-la de novo, me falaram de um luthier que tinha por lá. Levei a guitarra e o cara pintou de preto..como eu queria.

A strato 68 estava sem pintura...na madeira..eu achava linda, mas o Bilau não. Aí quando ele viu a minha pintada, resolveu mandar a dele também.
Mandou pintar de azul metálico..tava na moda...detestei.

Mas o pior aconteceu. A anta do luthier, não sei porque cargas d'água, pintou também a mão da guitarra. Quer dizer, apagou o nome da guitarra e uma das provas de que se tratava de um modelo de 1968, pois os logos são diferentes e também se reconhece por eles o ano de uma Fender. Um entendido de guitarras vintage não se baseia só nisso e se levassemos a guitarra nele, comprovaria que era um modelo de 1968, independente da mão estar pintada e os logos não aparecerem mais.

Esse luthier, depois fiquei sabendo de coisas esquisitas sobre ele.
Tipo... fazia cópias exatas de pedais da Boss em madeira, ia nas lojas e trocava por pedais de verdade quando os vendedores davam mole. Tinha fama de ladrão.

Da minha Strato ele não roubou nada, pois só levei o corpo para ele pintar...e na parte interna do corpo, em uma das cavidades tinha uma espécie de falha que seria muito difícil copiar e até perceber. Eu sabia porque fiquei procurando coisas nele que o identificassem, antes de levar pro cara...e claro, fiz umas marquinhas a mais por segurança.

A Strato 68, correu sérios riscos, pois ela foi completa para o cara pintar. Apesar de eu não crer que ele tenha roubado nada, pois me lembro que toquei nela depois e não senti diferença no som e nem no visual dos captadores, as tarraxas eram as mesmas... enfim.

Tenho péssimas histórias pessoais com luthier..não exatamente de roubo, mas de serviços mal feitos e estragos terríveis. 

Agora a parte mais triste. Alguns anos atrás quando fiquei sabendo que o Bilau faleceu, ficamos relembrando coisas e perguntei sobre a Strato dele...tinha sido roubada.


Mais ou menos no final de 84, voltei pro Rio e comecei a tocar com a Malu Vianna (já falecida) e com o grupo THC...grupo de hard rock progressivo e que gravou o tema do primeiro Rock In Rio...histórias pra mais adiante.


Que me lembre, o último compromisso que tive com o Cravo e Canela, foi fazer os bailes de carnaval de 1985.

Acrescentamos dois percussionistas...não tenho lembrança se colocamos sopros, e o resto era a galera da banda. Nos ensaios vimos que ninguém sabia praticamente nenhuma música de carnaval e como o tempo era curto, montamos os sets com músicas que tocávamos regularmente nos bailes.

O que rolava na época era Barão Vermelho, Kid Abelha, Paralamas...o rock brazuca. E foi o que tocamos, só que tudo em ritmo de carnaval e cheios de solos de improviso na guitarra, pra encher linguiça e o tempo render.
Ninguém fazia isso e foi um sucesso.

Os bailes foram em uma cidade chamada Santa Rita de Jacutinga e era famosa na região, acho que porque tinham cachoeiras...sei lá..não lembro.

Pra nosso azar, o clube em que tocamos era o da elite da cidade. Cheio de gente fresca e ficava bem vazio. As matinês eram gratuitas e aí sim o clube enchia.

O clube do povão bombava e pessoas que iam lá e apareciam nas nossas matinês, ficavam amarradonas na gente e diziam que nós é que tínhamos que estar tocando lá. Diziam que a banda era ruim, e que nós bons, divertidos e diferentes.

Pra não morrer de tédio nos nossos bailes, a gente enchia a cara e ficava zoando as pessoas e nós mesmo. Paulinho, um dos cantores, (já falecido também) era um gozador e ficava comparando pessoas com gente conhecida e também colocando apelidos, conforme a vítima... e a gente tocava morrendo de rir.
Foi uma pedreira dos infernos e depois desse...carnaval, nunca mais. Banda de baile também...não mais.

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Lugares - Acapulco em Copacabana


Por volta de 72-74, points como o Baixo Leblon, Lapa... não eram comuns no Rio. Em Copacabana, no posto 6 na esquina da Rua Francisco Sá com Avenida Atlântica, existia um restaurante desses de beira de praia, comuns na orla de Copacabana, chamado Acapulco.

Na quadra ao lado ficava a famosa e na época mal vista, Galeria Alaska. Uma galeria mal iluminada e sempre meio suja, que ia da Av. Nossa Senhora de Copacabana a Avenida Atlântica. Local de cinemas poeira onde assisti muitos bang bangs, em sua maioria Italianos e também alguns clássicos como Easy Rider e outros de música..sem contar os pornôs...que eu sonhava assistir mas por ser menor de idade não podia entrar. Tentei algumas vezes entrar de penetra e consegui duas vezes..não vi nada, antes me botaram pra fora.

Nela existiam alguns botequins, barbeiro, 3 ou 4 cinemas poeira, Boates, lojinhas de quinquilharias para turistas...

Ponto de travestis e prostitutas, tinha uma fauna rica e variante...de moradores a turistas, sem contar os boêmios, os bêbados, gente barra pesada ..enfim, uma misturada de gente boa e outras nem tanto.

Voltando ao Acapulco, sempre apareciam por lá artistas, músicos e muitos doidões. Era época do Mandrix e cansei de ver gente caindo de cara no chão. Ainda bem que essa moda passou ou teria muita gente de nariz e dentes quebrados por aí.

Andava com uma turminha e nosso ponto de encontro era na quadra do Acapulco, ali no calçadão. De noite costumávamos levar violão e tocar uns rockinhos...o Acapulco para nós era só um restaurante na esquina, com uma fauna característica.

Aprendi a tocar Samba de uma nota só com um Francês que estava lá e nos viu tocando em um dos bancos do calçadão. Foi até nós pra ouvir e ficou espantado porque só rolava rock. Me pediu o violão e tocou a bossa, que me era familiar, acessando minha memória remota...daí a facilidade com que aprendi a toca-la.

Pedi pro tal Francês me ensinar e ali mesmo e sem muita paciência ele me ensinou..e comentou pasmo. Como vocês que são brasileiros não sabem tocar essa música e eu um Francês, sei? Bem, hoje eu lhe diria o porque na lata!

Uma vez também apareceram por lá dois Argentinos...um com um dobro e o outro com harmônicas. Sentaram em um dos bancos e começaram a tocar blues...chapei...quando estavam indo embora, pedi tipo um flyer ou um mini..bem mini...poster que eles tinham. Se chamava Richie Zelon Blues Band...acho que ainda tenho esse cartaz/flyer em algum lugar.

E o Acapulco foi perdendo o reinado enquanto outros baixos surgiam. 

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Primeiros palcos


Quando penso no que falar, normalmente me vem lembranças engraçadas...aquelas historinhas as vezes bestas, mas que não te saíram da cabeça..claro, faz parte da tua vida, você estava lá!
Então lembrei minhas primeiras aparições em público.

A primeirona foi em uma clínica psiquiatrica...mais pra um hospício mesmo. Clínica Humaita em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, no ano de 1973 ou 74.

Doidos e doidas, alguns pelados, imundície, tudo largado..como deve ser um hospício até hoje.
Pelo "estilo" dos malucos, creio que fosse uma clínica para gente pobre e doidos achados pelas ruas...a maioria parecia mendigos.

Mas imagine como também não devem ter loucos de famílias abastadas, largados por esses hospícios.
Loucos são párias e por isso rejeitados. Deve ser realmente difícil ou impossível, você conviver com uma pessoa biruta.
Tem louco de pedra, louco mansinho, agressivo, hiperativo, louco que aparentemente não parece com louco e devem ter pessoas que a família acha que é louco e manda para esses lugares ou para se livrar mesmo, de pessoas que por serem livres demais parecem loucas.

Chegamos lá.. era um terreno grande com um casarão que lembrava uma escola pública, com anexos.
Onde tocamos era uma espécie de pátio coberto, semi fechado.

Começamos a montar nossa pequena aparelhagem e os doidos se chegando com cadeiras e sentando na nossa frente...estavam calmos.

O que me recordo é que tocamos algumas músicas sem nenhum incidente e eles, parece que gostaram. Na realidade não faço a menor ideia se gostaram ou não. Eles pareciam logo em seguida ao final das músicas,  distantes e desinteressados.

Acabamos de tocar, acho que um ou outro doido reclamou um pouquinho, outros aplaudiram ou não fizeram nada e enquanto a gente desmontava o som, um funcionário da clínica foi por trás de nós e ligou uma televisão que estava no alto, na parede.

Os doidos se alvoroçaram e voltaram pras cadeiras.
Apareceu a imagem, bem ruim e o tal funcionário foi tentar melhorar.
Cada mudançazinha que ele fazia, os malucos começavam a gritar...ta bom, ta bommmm....cada pequeno ajuste que ele dava e eles se desesperavam..ta bom, ta bommmm, ta bommmm...
Hoje penso...será que eles ficavam assim porque a imagem da tv era realmente uma M... e qualquer tentativa de melhora poderia ou deixar melhorzinho ou estragar tudo?

Senti pena deles...tudo muito largado, eles não tem ninguém a não ser eles mesmo..acredito.

A banda eramos eu, Ivon Azambuja, Gilberto, Felinto Sergio e Jorge Victor (Bacalhau).. a Fenix...que um taxista uma vez nos levando perguntou o nome. Quando falamos ele virou pra trás e perguntou...aos berros...Pênis? O nome da banda é caralho? Foi uma gargalhada geral e a gente tendo que explicar o certo.

Tinham também os agregados. Maria Inês, que cantava, compunha e tocava violão..tive um namorico com ela mas eu era um...mané. Ela escrevia muito bem e tinha uma música que era um hit entre quem conhecia.

Acordei as 3 horas da matina
pra pegar o trem das 5 na Leopoldina..

.. e ela seguia contando o que aconteceu na viagem. Escrevia bem e a música era bonitinha. Tinham outras boas também, mas é querer demais eu tentar lembrar de algo.
Roberta, que tocava piano...sua irmã mais nova, Úrsula, que não lembro o que fazia na banda, mas fazia eu e Sérgio suspirar rs
A gente adorava ela..uma pessoinha legal..e por ser gata, é óbvio.
Não sei se tinha mais alguém.
E foi assim!


Meu segundo show foi com a mesma primeira banda.

Alguém arrumou para tocarmos em um colégio em Copacabana, no turno da noite. Não me recordo a localização da escola..não me recordo de nada desse show...só do Yvon, que nessa época tinha passado pra bateria, caindo do banco em uma música...e de mais nada.
Tenho uma vaga lembrança de que o clima não estava bom...o motivo...já não sei.


Depois do inesperado primeiro show, e do segundo, que não lembro de nada, fiz minha terceira apresentação e esse sim, merecia ser um primeiro show, mesmo sendo só uma música.

Foi em um festival do Instituto de Educação, na Tijuca. Uma construção antiga e bela, com muitos lugares anexos. Um deles é um lindo e grande teatro. Palcão..tudo grande.

A mesma banda, agora tocando com Vania. Quase certeza que se chamava Vania ...ou Vilma....esse negócio de esquecer nomes e etc..é muito chato...enfim, vamos lá!

Ela, uma bela morena estilo mulherão, cabelão pretão...um pouco mais velha que a gente e que cantava lindamente. Ela era da Vila da Penha, lugar que andei durante um tempo tocando mas bem depois, no final dos anos 80. Rolou um clima, mas eu medrei...ela era muito mais experiente, mais mulher mesmo. Eu um adolescente que só queria saber de guitarra e ainda por cima virgem...tremi rs

A banda contava também com uma pianista e a música com que íamos participar, creio que era dela. Infelizmente não tenho certeza de seu nome também, talvez Denise...mas certeza que ela morava em Vila Isabel.

Na hora do festival, teatro cheio...lotado!

Fomos uma das primeiras ou a primeira a tocar.
Nos anunciaram e fomos entrando.

Eu era magrinho (continuo) e tava branquelo meio cor de burro quando foge. Meu tempo de surfista tinha acabado e com ele foi-se a côr.

Um gaiato me viu e gritou..."aí macarrãoooo"
Claro que saquei que era comigo e a platéia também.
Foi uma gargalhada geral.
Aquilo me deixou levemente desconcertado, mas ao mesmo tempo me instigou. Baixou algum santo e fiquei concentradão em tocar.

A introdução da música ou tinha algo de guitarra ou era a Vânia que entrava cantando algo...era bonito e com a ideia de ser meio empolgante.. e funcionou...a plateia gostou!
Senti como uma ótima resposta que demos pra eles. Tocamos dentro de nossas limitações, ninguém ali tinha sequer 5 anos de música...talvez a cantora e a compositora sim, pois eram um pouco mais velhas e pareciam já ter alguma experiência...mas nós...os 4, começamos mais ou menos na mesma época...uns três anos antes...ninguém tocava ou sabia tanto assim.

Mas fomos todos bem e deve ter soado harmônico.... eles vibraram na hora, aplaudiram e deram gritinhos...me senti vingado ..e justiça seja feita...sem a linda voz da cantora eu ia ter que engolir o macarrão!
Não lembro o que aconteceu, tenho pra mim que a Vânia ganhou algo como melhor interprete...não sei em que lugar ficamos.

Foi uma música só, que tenho uma pequena lembrança de como era...se não estou confundindo com alguma outra música, ela começava com algo mais ou menos assim:

Mesmo que eu me lembre.....

Pouco, né? Mas pra mim foi O show..com piadinha e tudo!

Depois dessa, que foi em 74 ou 75, só voltei a tocar em público com o grupo Hydrante, em 77 ou 78...e daí em diante não parei mais.

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Ensaios frustrados


Ensaios não costumam ter surpresas e ninguém também espera por isso, mas as vezes acontecem coisas que depois achamos graça.

Lembro de dois deles, bem no início de minha vida musical.

Não existiam estúdios de ensaio, então a gente tinha que se virar. Normalmente os ensaios eram na casa do baterista, mas não só...se não reclamassem a gente ia fazendo.

Um dos lugares onde a gente ensaiava era na casa de Yvon Azambuja, que já citei em outra postagem...aliás a casa dele também era o lugar dos encontros e de ouvirmos as novidades musicais em primeira mão, as revistas...

O pai e a mãe, suas irmãs lindas..Dedé e Glaucia..Glaucia mais fechadona e Dedé, super alegre e gente boa...além da Samantha, que eu morria de medo. Um mix de pastor com vira lata, séria e invocada.

Eles gostavam daquela agitação toda, pois ainda tinham os vários amigos das moças e do filho mais velho, que viviam por lá.
O pai, seu Wilson, era também quem as vezes trazia os pedidos desse filho mais velho, também Wilson...pedidos de discos importados..e a gente aproveitava, é claro.

Então uma certa vez, começamos a planejar uma jam...estávamos conhecendo outros músicos e os convidamos. Como não daria pra fazer isso na casa do Yvon, no quarto onde a gente ensaiava, resolvemos fazer a tal jam na cobertura do prédio, que era uma área vazia. Não sei se comunicamos o síndico ou quem quer que seja.

Existia um percussionista chamado Foguete e que era amigo do irmão do Yvon, se não me engano...sei que conseguimos convida-lo. Rezava a lenda que ele tocava com o Gilberto Gil. Então no dia D, levamos nossas tralhas para a tal cobertura e começaram a chegar os convidados. Dentre eles o Foguete.

Chegou cheio de bolsas e sacolas, sentou no chão e começou a tirar instrumentos de percussão e coloca-los em volta de si... além dos normais, um monte de coisas que percussionistas transformam em instrumentos.

Começamos a tocar...alguns minutos depois chegou o síndico e aos berros acabou com a festa. A cara do foguete guardando as coisas, quem viu não esqueceu.  Mas foi uma frustração geral, principalmente a nossa, pois queríamos muito o contato com músicos mais experientes e alguns apareceram...só não tocaram. 

O outro ensaio furado foi em uma guarita militar. Conhecíamos alguém que morava dentro do quartel do exército no posto 6, em Copacabana, e essa pessoa nos ofereceu uma guarita que tinha lá abandonada e ficava em um morro, onde hoje é o parque Garota de Ipanema, no Arpoador.

Fomos...subindo pelo morro com caixas de som, bateria e etc...uma mão de obra dos infernos. Começamos a montar e acho que nem chegamos a tocar ou porque não tinha energia no lugar ou porque apareceu alguém e nos mandou sair dali. Acho que foram ambas as coisas. E tome a descer o morro de volta, cheio de tralhas e frustração.

Hoje é mole, em todo canto existem estúdios de ensaio pra alugar e temos até roadies...pagando, é claro. Dos anos 70... só os valentes continuaram rs 

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Pessoas pelo caminho


Quando estamos começando a tocar, sempre cruzamos com alguma pessoa que nos da toques preciosos ou as vezes apenas uma palavra de incentivo, que mexe com nossa vontade de aprender e nos estimula a continuar.

No início conheci dois guitarristas mais velhos um pouco que eu e mais experientes, que tocavam muito bem e eram amigos. Jair e Henrique.

Com o Henrique não tive muito contato..foi convocado para o exército e segundo me disseram na época, fora convidado a tocar com a Gal Costa mas não foi por esse motivo...imagine.
Um tempo depois o que me contaram foi que ele virou Policial Federal.

O Jair vivia com o avô...um militar linha dura que praticamente o proibia de tocar.

As vezes ele me chamava para ir na casa dele fazermos som. Eu ia, apesar de não gostar muito, porque me pelava de medo do velho que me fulminava com os olhos. Mas sempre ia porque além de gostar dele, aprendia muito só em observa-lo tocando.

Ele via futuro em mim e me incentivava. Foi com ele que aprendi a fazer o vibrato com a mão...que fazia muito bem e eu babava. Tinha uma Gibson Kalamazoo creme ou branca, que lembrava uma Fender Mustang...como essa da foto..talvez igual a esta, mas não me recordo direito.
Infelizmente perdi o contato com ambos e principalmente com o Jair, que foi uma espécie de mestre para mim. 

Além dele, não lembro de nenhum outro. Primeiro porque não conhecia e segundo porque eram poucos os guitarristas naquele tempo.
Restou também a curiosidade de saber o que ele fez da vida, que rumo tomou, será que o avô castrador o deixou seguir com a música..não creio e acredito que nunca saberei.

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