domingo, 9 de fevereiro de 2014

Luthiers........



É evidente que existem luthiers excelentes e que hoje, talvez não cometam erros...mas tenho absoluta certeza que já fizeram alguma ou muita besteira antes de ficarem bons.
Mesmo assim não coloco minha mão no fogo por nenhum. Tenho meus motivos e são mais que convincentes pra mim, pois quem se ferrou fui eu.

Fico muito tentado a expor o nome deles, mas deixa quieto...quem os conheceu na época e ler isto, saberá quem são...direi apenas, aproximadamente aonde eram suas oficinas...não lembro mesmo os nomes das ruas...e os chamarei pela primeira letra de seus nomes.

Caso 1: Luthier C

Levei minha Stratocaster 1969 no único luthier que conhecia no início dos anos 90 ou final dos 80. Hoje ele é muito conhecido e renomado...e realmente já vi (não toquei em um) belos instrumentos feitos por ele...se prestavam, se deram defeito posteriormente, não faço idéia.

Sua oficina era em um casarão velho, em uma rua não muito longe da praça Saens Peña na Tijuca, Rio de  Janeiro. Antes dessa casa, ele tinha uma oficina..se é que poderíamos chamar aquilo de oficina, em uma casa também na zona norte, só que do outro lado da linha de trem...não sei que bairro era aquele...talvez Rocha. E foi onde o conheci, atravez de um amigo baixista.

Levei a guitarra para trocar os trastos e o nut..queria experimentar um de metal. Falei com o cara a verdade...que só tinha aquela guitarra e precisava dela para trabalhar, logo, não poderia esperar muito pelo conserto. Ele deu um prazo e me garantiu que entregaria nele. Chegou o dia da entrega, fui pegar a guitarra...ele não tinha terminado e sequer estava trabalhando nela.

Aí foi aquela correria, desculpas esfarrapadas e garantiu que me entregaria em poucos dias. Nessa eu já estava me ferrando tendo que pedir guitarra emprestada a amigos.
Não gosto de pedir e ninguém gosta de emprestar seus instrumentos. E tem que ser assim mesmo. Não se empresta o instrumento de fé e de trabalho.

Chegou o dia e ainda faltava fazer o nut.
Aí pegou um velho que tinha lá já pronto e colocou. A corda sol ficou fazendo barulho de vibração...pegou um ferro de soldar e deu um pingo na ranhura por onde passa a corda..quebrou o galho e eu resolvi aceitar desse jeito mesmo, já muito irritado com aquilo tudo e querendo ir embora logo daquele lugar. 

Mas o pior eu não vi e só dei por mim a medida em que ia tocando.
A primeira e sexta corda escapavam do braço. Eu não entendia nada...antes a guitarra era perfeita...

Não pude voltar nele, o tempo foi passando e eu cada vez mais tendo dificuldade de tocar com a guitarra. O tempo passou e ficou por isso mesmo. Também se voltasse lá, que outro jeitinho ele daria?

Uns poucos anos depois conheci o luthier M, que fez uma Tele pra mim e levei a Strato para ele dar uma olhada. Pegou um gabarito de escala usado pela Fender, colocou na minha e descobriu o que havia acontecido.

O senhor C errou na lixada e mudou a curvatura da escala. Lixou demais nas bordas e as duas cordas escapavam.
Pior, lixou tanto que a deixou tão fina que não aceitaria outra lixada e novos trastos...só trocando a escala.

Tentei resolver arrumando sadlles menores e espremendo-os para o centro do braço...o que óbviamente não deu muito certo e a guitarra ficou cada vez mais difícil de ser tocada. Minha mão doía e frases mais rápidas era uma dificuldade pra fazer...a ponto de eu achar que o problema era eu.

Passei a desconfiar de todo e qualquer luthier e depois de um tempo comecei a usa-la só para slide...hoje nem isso... agora esta dentro de um armário guardada...até a coragem e o ânimo voltarem e eu a levar em algum outro pra trocar a escala.


Caso 2.: Luthier M.

Por volta de 1994 mandei fazer um modelo Telecaster.

Sua oficina era em uma casa que ficava próxima a rua Uruguai e a rua Maxwell...meio que na fronteira entre a Tijuca com o Andaraí..bairros da zona norte do Rio.

Paguei adiantado e me prometeu entregar em poucos meses...levou mais de um ano. Isso porque eu fiquei em cima reclamando.

Queria que a mão fosse igual das Stratos do final dos anos 60 e 70. O large headstock.
Não ficou igual, ficou deformado e não gostei, é claro. Aí ele cortou de novo fazendo o modelo antigo...que eu não gosto. Tive que engolir o sapo.

Eu queria o braço mais gordo.
Tanto fez, me falando dos novos shapes de braço que estavam usando e que segundo ele eram excelentes, que eu não iria me arrepender....que a contra gosto terminei aceitando. O braço não tinha absolutamente nada demais, não resolveu meu problema e mais uma vez tive que engolir..outro sapo.

Pra terminar com chave de ouro, errou algum cálculo..creio que na furação da ponte e o resultado foi:

1º- eu tinha que puxar os sadles, envieza-los no sentido dos bordões para as cordas ficarem no lugar certo e centradas no braço. O que também as fazia sair do centro dos polos dos captadores.

2º- por causa desse erro, a guitarra desafinava facilmente e a  afinação das oitavas no 12º trasto era uma batalha.

Como resolvi.
Deixei pra lá!

A usei um bom tempo assim mesmo e depois passei a usa-la também  apenas para slide... por fim virou instrumento de testes e hoje vive jogada aqui em um canto.

                                    
Caso 3.: 

Em 2011 montei uma Strato...já tinha um corpo em Ash e o braço importei pela net, via Stewart MacDonald. O braço me saiu por 300 e poucos reais com todas as taxas incluídas. Precisei apenas pedir a um amigo que não é luthier mas tem vários tipos de ferramentas e máquinas, para recortar a mão. Como gosto do large headstock da Fender, o desenhamos na madeira e ele cortou..ficou praticamente perfeito, mesmo sem termos o molde original.

Faltava o nut.

Estava morando em Sampa e a levei em um luthier...o cara faz trabalhos para gente conhecida e sua oficina é no Brooklin. Perdi o cartão dele, então não lembro seu nome mas ta tranquilo, só quero mostrar o erro e como o dele não foi grave...
....mas o caso é que errou 4 vezes...na última quando me dei conta do defeito, já estava longe de Sampa, capital.

Descobri uma vibração estranha...um zumbido quando eu tocava com ela desligada. Comecei a caça e descobri que o zumbido vinha do nut, exatamente na corda La. Vibra atrás do nut quando a toco solta.

Ta assim até hoje...como felizmente com ela ligada não percebo essa vibração, tudo certo...deixa assim por enquanto. Mas errar um nut 4 vezes....

Antes de importar o braço sondei preços com luthiers...a média foi 1000 reais...questionei isso comentando sobre os da Stewart McDonald e a resposta era a velha manjada..."ahh, mas nós fazemos exatamente como o cliente quer e os da S. MacDonald são feitos em série sem controle nenhum, a nossa madeira é... bla bla bla bla bla bla

O braço ta bonzão aqui e não tenho nada a reclamar...exceto pelo raio da espessura que gosto mais gordo, mas nada que me atrapalhe muito.
Ah sim... pra não fugir a regra, veio com um pequeno defeito. Um trasto estava levemente mal encaixado de um lado. Peguei um martelinho, coloquei um pedaço de couro por cima e dei 3 marteladinhas...resolvi!



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