quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Começando a tocar - 1



Quando uma pessoa esta começando a tocar um instrumento, entre as dúvidas normais, algumas outras mais ligadas a ansiedade, em querer aprender logo, tocar as músicas que gosta, tocar igual (sic) seu(s) ídolo...enfim...atormentam o iniciante e sua cabeça fica cheia de perguntas e desejos. Comigo não foi muito diferente.

Na época em que comecei a tocar, 1972, tudo era difícil. Professor de guitarra conheci apenas um. Não cheguei a ter aulas com ele pois era  muito requisitado e me parece que trabalhava em estudio. Se chamava Marquinhos, tinha uma Gibson SG e morava na Rua Raul Pompéia, quase esquina com Julho de Castilho no posto 6, em Copacabana. Anos depois tive algumas aulas de teoria com Armenio Graça...o suficiente para aprender a ler e escrever partituras.

Não sei se por ser auto-didata, nunca gostei de ensinar.
Me falta paciência, didática e principalmente dom para isso.
Posso estar errado mas no meu entender, para ser um bom professor você tem que ter também o dom de ensinar e dou muito valor a quem o tem, pois eu não tenho e gostaria de ter.

Aos poucos alunos que tentei ensinar algo, alguns vinham com umas perguntas que eu não me fiz quando comecei a aprender.

"quanto tempo eu demorei para fazer o primeiro solo"

Simplesmente não sei. lembro que nunca me preocupava em tirar solos inteiros.
Minha atenção estava voltada para pequenas coisas como riffs, efeitos, técnicas, pequenos detalhes e coisas que enriqueciam os solos.
Os solos em si, admirava por sua inventividade ou não e nos meus treinamentos minha preocupação era apenas solar aleatóriamente, independente de minhas limitações e pouco conhecimento, mas sempre tentando criar alguma melodia.

Lembro também que tinha minha atenção voltada para solos longos e que fossem realmente criativos. Solos baseados em riffs e repetição de células, eu sequer interpretava como solos, pois percebia que eram todos montados.

Aprendi uma ou outra escala e meus estudos de solos eram na base do improviso, usando essas escalas.
Desde o começo foi assim e claro, também ou principalmente, ouvindo os discos e pegando os detalhes que comentei, aprendendo a como fazer determinada coisa e incorporando isso.

Como não sabia muita coisa de harmonia, colocava dois ou três acordes na cabeça e ficava solando em cima desse acompanhamento imaginário. Não devia sair tão ruim, pois ninguém reclamava. Exceto minha mãe que uma vez me perguntou: Você não toca nada conhecido? rs

Meu vocabulário evidentemente era limitado e isso funcionou de forma produtiva, pois ficava o tempo todo tentando criar coisas novas e isso me fazia arriscar e tentar caminhos que não conhecia ainda. Isso fez com que eu ficasse bem safo nos improvisos e exigente também.

Até hoje me broxa quando percebo que meus improvisos estão deixando de ser improvisos e se tornando caminhos pelos quais já passei. Essa insatisfação me fez também, inconscientemente, me ligar em melodias, pois se eu repetisse melodias no improviso, ficaria evidente demais que haviam deixado de ser improviso para serem frases prontas. E isso terminou se tornando um diferencial na minha forma de tocar. Sempre que improviso, tento criar alguma história nova...se vai ser boa ou ruim, são outros quinhentos.

Gosto por exemplo dos improvisos do Allman Brothers e em especial, gostava dos criados por Dicky Betts, que sempre me levava em seus climas até chegarem ao ápice. Não fiquei bom nisso, em criar esses climas crescentes e emocionantes, mas sei apreciar os que sabem fazer isso bem.

Para aprender a solar fiz dessa forma e o conselho que posso dar,  além de ouvir o máximo de guitarristas que você puder, separando os que valem a pena dos que nada te acrescentarão, é...destrinche o braço da guitarra. Aprenda aonde fazer o mesmo solo no máximo de lugares possíveis. Misture as escalas e não se atenha a nenhuma, apesar do que, as pentatônicas sempre estarão no seu caminho e funcionam.
 
Fique muito atento a digitação, estude-a, observe os caminhos, desdobre-a, enrole-a e faça gato e sapato dela...você pode ir para qualquer lugar e de forma fácil atravez da digitação.
E se descobrir ou criar um caminho de digitação que te de uma liberdade absurda, treine-a até incorpora-la a sua forma de tocar e use-a, pois do contrário, acredite.. você vai esquecer como fazer e depois vai ficar se lamentando feito eu.

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