quarta-feira, 26 de março de 2014

Primeiros palcos

Quando penso no que falar, normalmente me vem lembranças engraçadas...aquelas historinhas as vezes bestas, mas que não te sairam da cabeça..claro, faz parte da tua vida, você estava lá!
Então lembrei minhas primeiras aparições em público.

A primeirona foi em uma clínica psiquiatrica...mais pra um hospício mesmo. Clínica Humaita em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, no ano de 1973 ou 74.

Doidos e doidas, alguns pelados, imundície, tudo largado..como deve ser um hospício até hoje.
Pelo "estilo" dos malucos, creio que fosse uma clínica para gente pobre e doidos achados pelas ruas...a maioria parecia mendigos.

Mas imagine como também não devem ter loucos de famílias abastadas, largados por esses hospícios.
Loucos são párias e por isso rejeitados. Deve ser realmente difícil ou impossível, você conviver com uma pessoa biruta.
Tem louco de pedra, louco mansinho, agressivo, hiperativo, louco que aparentemente não parece com louco e devem ter pessoas que a família acha que é louco e manda para esses lugares ou para se livrar mesmo, de pessoas que por serem livres demais parecem loucas.

Chegamos lá.. era um terreno grande com um casarão que lembrava uma escola pública, com anexos.
Onde tocamos era uma especie de pátio coberto, semi fechado.

Começamos a montar nossa pequena aparelhagem e os doidos se chegando com cadeiras e sentando na nossa frente...estavam calmos.

O que me recordo é que tocamos algumas músicas sem nenhum incidente e eles, parece que gostaram. Na realidade não faço a menor idéia se gostaram ou não. Eles pareciam logo em seguida ao final das músicas,  distantes e desinteressados.

Acabamos de tocar, acho que um ou outro doido reclamou um pouquinho, outros aplaudiram ou não fizeram nada e enquanto a gente desmontava o som, um funcionário da clínica foi por trás de nós e ligou uma televisão que estava no alto, na parede.

Os doidos se alvoroçaram e voltaram pras cadeiras.
Apareceu a imagem, bem ruim e o tal funcionário foi tentar melhorar.
Cada mudançazinha que ele fazia, os malucos começavam a gritar...ta bom, ta bommmm....cada pequeno ajuste que ele dava e eles se desesperavam..ta bom, ta bommmm, ta bommmm...
Hoje penso...será que eles ficavam assim porque a imagem da tv era realmente uma M... e qualquer tentativa de melhora poderia ou deixar melhorzinho ou estragar tudo?

Senti pena deles...tudo muito largado, eles não tem ninguém a não ser eles mesmo..acredito.

A banda eramos eu, Ivon Azambuja, Gilberto, Felinto Sergio e Jorge Victor (Bacalhau).. a Fenix...que um taxista uma vez nos levando perguntou o nome. Quando falamos ele virou pra trás e perguntou...aos berros...Pênis? O nome da banda é caralho? Foi uma gargalhada geral e a gente tendo que explicar o certo.

Tinham também os agregados. Maria Ines, que cantava, compunha e tocava violão..tive um namorico com ela mas eu era um...mané. Ela escrevia muito bem e tinha uma música que era um hit entre quem conhecia.

Acordei as 3 horas da matina
pra pegar o trem das 5 na Leopoldina..

.. e ela seguia contando o que aconteceu na viagem. Escrevia bem e a música era bonitinha. Tinham outras boas também, mas é querer demais eu tentar lembrar de algo.
Roberta, que tocava piano...sua irmã mais nova, Ursula, que não lembro o que fazia na banda, mas fazia eu e Sérgio suspirar rs
A gente adorava ela..uma pessoinha legal..e por ser gata, é óbvio.
Não sei se tinha mais alguém.
E foi assim!


Meu segundo show foi com a mesma primeira banda.

Alguém arrumou para tocarmos em um colégio em Copacabana, no turno da noite. Não me recordo a localização da escola..não me recordo de nada desse show...só do Yvon, que nessa época tinha passado pra bateria, caindo do banco em uma música...e de mais nada.
Tenho uma vaga lembrança de que o clima não estava bom...o motivo...já não sei.


Depois do inesperado primeiro show, e do segundo, que não lembro de nada, fiz minha terceira apresentação e esse sim, merecia ser um primeiro show, mesmo sendo só uma música.

Foi em um festival do Instituto de Educação, na Tijuca. Uma construção antiga e bela, com muitos lugares anexos. Um deles é um lindo e grande teatro. Palcão..tudo grande.

A mesma banda, agora tocando com Vania. Quase certeza que se chamava Vania ...ou Vilma....esse negócio de esquecer nomes e etc..é muito chato...enfim, vamos lá!

Ela, uma bela morena estilo mulherão, cabelão pretão...um pouco mais velha que a gente e que cantava lindamente. Ela era da Vila da Penha, lugar que andei durante um tempo tocando mas bem depois, no final dos anos 80. Rolou um clima, mas eu medrei...ela era muito mais experiente, mais mulher mesmo. Eu um adolescente que só queria saber de guitarra e ainda por cima virgem...tremi rs

A banda contava também com uma pianista e a música com que íamos participar, creio que era dela. Infelizmente não tenho certeza de seu nome também, talvez Denise...mas certeza que ela morava em Vila Isabel.

Na hora do festival, teatro cheio...lotado!

Fomos uma das primeiras ou a primeira a tocar.
Nos anunciaram e fomos entrando.

Eu era magrinho (continuo) e tava branquelo meio cor de burro quando foge. Meu tempo de surfista tinha acabado e com ele foi-se a côr.

Um gaiato me viu e gritou..."aí macarrãoooo"
Claro que saquei que era comigo e a platéia também.
Foi uma gargalhada geral.
Aquilo me deixou levemente desconcertado, mas ao mesmo tempo me instigou. Baixou algum santo e fiquei concentradão em tocar.

A introdução da música ou tinha algo de guitarra ou era a Vania que entrava cantando algo...era bonito e com a idéia de ser meio empolgante.. e funcionou...a platéia gostou!
Senti como uma ótima resposta que demos pra eles. Tocamos dentro de nossas limitações, ninguém ali tinha sequer 5 anos de música...talvez a cantora e a compositora sim, pois eram um pouco mais velhas e pareciam já ter alguma experiência...mas nós...os 4, começamos mais ou menos na mesma época...uns três anos antes...ninguém tocava ou sabia tanto assim.

Mas fomos todos bem e deve ter soado harmônico.... eles vibraram na hora, aplaudiram e deram gritinhos...me senti vingado ..e justiça seja feita...sem a linda voz da cantora eu ia ter que engolir o macarrão!
E os outros, incluindo a cantora, só o molhinho rs

Não lembro o que aconteceu, tenho pra mim que a Vania ganhou algo como melhor interprete...não sei em que lugar ficamos.

Foi uma música só, que tenho uma pequena lembrança de como era...se não estou confundindo com alguma outra música, ela começava com algo mais ou menos assim:

Mesmo que eu me lembre.....

Pouco, né? Mas pra mim foi O show..com piadinha e tudo!

Depois dessa, que foi em 74 ou 75, só voltei a tocar em público com o grupo Hydrante, em 77 ou 78...e daí em diante não parei mais.


2 comentários:

  1. Kkkkk...morro com estas tuas histórias...música para loucos, esta é boa....dizem que música acalma as feras, então...

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  2. hehehe, mas é... no caso dos malucos, quem acalmava mesmo era a televisão rss

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