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domingo, 9 de fevereiro de 2014

Canja? Não...ok?




Nunca fui muito chegado a canjas, primeiro e principalmente porque não gosto de pedir instrumento emprestado.. geralmente nessas situações você não conhece o dono do instrumento e muito menos ele a você.. e porque também não gosto de emprestar o meu...assim como não conheço alguém que goste. Só quem já se aborreceu com isso sabe.

No caso de dar a canja...quando são jams livres tudo certo, mas normalmente é pra tocar alguma musiquinha xexelenta que você já não aguenta mais. Pro cantor aparecer é ótimo, pra você que será o figurante, aquela ladainha é um saco!

Tem uns caras por aí que adoram dar essas canjas e claro, ficam irritadíssimos quando negamos o instrumento. Mas vá pedir o instrumento dele para uma canja e veja se ele te empresta.

Alguns são tão cara de pau, que recusam ou ficam P... se você
não quiser emprestar seu instrumento de fé, mas um outro que esteja contigo.
Já aconteceu mais de uma vez comigo.

As vezes eu levava duas guitarras para tocar e usava ambas realmente, conforme a música. Só que uma era minha Fender 69 e a outra uma Telecaster feita por um luthier. A Fender com singles e a Tele com humbuckings...era evidente que eram instrumentos com sons diferentes e que se eu usava ambas (ou qualquer outro que fosse o dono) era porque prestavam...e quem ouvia a Tele elogiava, dizia que ela falava muito e o timbre era muito bom...essas coisas.

Então o bicão vinha me pedir, eu falava ok e dava a Tele, é claro!
Acredita que um distinto uma vez fez cara feia e ainda teve a petulãncia de falar...ahh, com essa não..quero a Fender.

Ficou sem a canja porque aí eu simplesmente ignorei o cara, não emprestei mais e que se dane.

Mas minha bronca maior com canjas é que já tive vários prejuizos.

Listando.
 
Minha primeira guitarra importada foi uma Gibson SG Standard 1973.
Linda, novinha, com aquele acabamento sensacional das Gibsons.
Era de uma cor marron acinzentada que nunca vi outra igual, sobre a madeira aparente.
Tava em uma festa dessas que rolam jams. Um lugar escuro cheio de malucos tocando e dançando. Em determinado momento, um cara que eu conhecia de nome e de vista e que tinha fama de que tocava bem, chamado Egídio ou Ernesto..não lembro mais...e que morava perto de mim no posto 6 em Copacabana...ou pelo menos vivia por lá...me pediu emprestado. Relutei um pouco mas baseado nesse histórico do cara, emprestei.

Tenho 99% de certeza que foi ou por maldade ou por inveja, pois naquela época nem todo mundo tinha uma guitarra importada.

Ele estava com um relógio daqueles cuja corrente é toda de metal...mas não em seu braço direito...enfim...emprestei a guitarra e fiquei curtindo a festa. Ele deu lá a canja dele, tocou algumas músicas e eu fui pedir a guita.
Nessa hora reparei que o tal relógio estava em sua mão direita, mas não fiquei pensando ou achando nada...jamais me passaria pela cabeça algo ...hoje já não agiria assim.

No final da festa quando fui limpar a guitarra pra guardar, notei algo diferente no corpo dela...exatamente na região onde fica nosso pulso e antebraço. Levei em um lugar mais iluminado e tinha um mapa de riscos no verniz..vi aquilo, me deu uma tristeza e raiva imensas mas tive que engolir o sapo...nem vi mais o cara na festa.


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Em 1986 estava ganhando uns trocados em Ubatuba tocando em um barzinho com um cara. Chegou um senhor e começou a me encher o saco pedindo para eu emprestar pro filho dele dar uma canja, que era um garoto novo e tocava bem, mas não tinha experiência nenhuma em tocar em público e bla bla bla.... Tanto insistiu que emprestei.

O garoto ficou lá solando e usando aquela técnica de bater com a palheta na corda, no braço da guitarra. Até aí tudo bem...nunca vi ninguém estragar um instrumento assim.
Deu a canja dele, me devolveu a guitarra, o pai agradeceu muito e sumiram.
Era o intervalo..na volta, no primeiro blend que dei na altura do final do braço, senti a corda prendendo e arranhando. Acabou a música e corri pra olhar...um dos trastos estava com uns 3 ou 4 riscos.

Depois conversando com meus amigos, a dedução que chegamos foi que o garoto deve ter batido com a palheta na corda, exatamente em cima do trasto e isso deve ter funcionado como um martelinho.

Pra eliminar aquilo, peguei uma lixa fina e alisei parcialmente os riscos.

Este foi o início da derrota da minha Fender. Ainda toquei um bom tempo com ela assim, até que resolvi levar em um luthier no Rio para trocar os trastos, pois lixar todos eles não ia mais prestar.
....e o bendito luthier.....uma óva..maldito luthier... fez seguramente a maior cag... de sua vida. Destruiu a escala da minha Fender.


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A Tele... mandei pintar de vermelha e ficou lindona! Estreei a guitarra no mesmo dia em um bar que estava tocando na Barra da Tijuca. Um amigo meu guitarrista que sempre ia lá, me pediu pra dar uma canja. Tranquilo...emprestei a guitarra.
Quando acabou a canja, vi que ele estava usando um cinto com aquelas fivelonas...antes não tinha notado isso.
Virei o corpo da guitarra e... todo arranhado...quase tive um treco.
Sei que não foi por maldade, mas será que ele teria o mesmo descuido com a guitarra dele?

E o prejuizo como sempre...meu!

Emprestar e me devolverem com cordas arrebentadas? Comum.

Por essas e outras, ha um bom tempo não empresto mais e que se dane quem ficar de cara feia.

Um adendo.:

Em um show meu no bar Let It Be, no ano de 1983, no final do show alguém me pediu uma canja para um amigo que tocava gaita. Eu fingia que tocava gaita em um blues. Na realidade usava a gaita pra afinar a guitarra e brincava nesse blues com metade dela..não sabia mesmo o que fazer com a outra metade da gaita...e não sei até hoje.

Então o cara subiu e lembro bem que se chamava Carlito. Perguntei o tom e ele me disse..Do
Tocamos em dó e ficou uma porcaria...ele não se entendia direito, é óbvio, pois a gaita era em dó mas o acompanhamento teria que ser em Sol...como ele disse Do..tocamos em Do.

Eu quando estou no palco, fico meio que absorvido por isso e não consigo pensar direito quando o assunto foge do que estou fazendo, ou tenho que fazer. Minha gaita também era em dó e eu sabia que a harmonia tinha que ser tocada em Sol. Na hora nem lembrei disso e também vendo que ele era gaitista, não me passou nada pela cabeça.

Esse show foi gravado toscamente com um gravador k7 e no outro dia em casa, ouvindo foi que atentei.

Putz...nós tinhamos que ter tocado em Sol pra dar certo.

Porque ele falou que era Do...será que não sabia que se a gaita é em Do, tocamos em sol, se é Mi, tocamos em Si... ?

Ficou esse mal estar como se eu tivesse tentado sacanear o cara, mas a verdade é esta e a fita k7, que ainda existe, prova isso. Ta la a banda tocando em Do.  


domingo, 12 de janeiro de 2014

Fender x Gibson

Fender x Gibson

Já li e ouvi inúmeras besteiras sobre essas duas marcas de guitarras, tão definitivas para o instrumento.
Instrumentos completamente diferentes e que se completam.

Existe a melhor? Não. Toda e qualquer opinião sobre isso é motivada pelo gosto pessoal de cada um. O papo de que uma é mais para blues, outra para rock, heavy...ou o som que seja, são mais convenções e lenda. Sim, um humbucking soará "melhor" para um som pesado..mas nada impede de criarmos outro timbre pesado, usando um single coil, ou sei lá o que... só depende da criatividade do músico.

É sempre assim...até a hora que aparece alguém contrariando essas máximas, com algo totalmente diferente do "estilo", com um senhor timbre e fazendo um belo som, e logo os seguidores e admiradores aparecem elogiando e falando que o cara e o que ele usa é o máximo.  

Voltando a essas duas marcas, basicamente o que eu não gosto na Gibson é o corpo não anatômico e os ângulos retos em suas bordas, que são desconfortáveis. Mas o maior problema que tenho com elas é em relação ao meu timbre.
Definitivamente humbuckings não são a minha praia e como já testei inúmeros single-coils em mogno e nenhum deles me agradou, incluindo single P90 da Gibson, esta madeira também não me interessa. Para não ser totalmente injusto, já consegui um timbre que me agradou, na Telecaster em mogno que tive em que usei um humbucking Seymour Duncan (era um modelo para jazz) junto com um Gibson 57, dos anos 70.

A combinação dos dois, me dava um timbre perfeito para o que eu estava fazendo na época.
Tocava em uma banda de country rock e usava basicamente slide. A combinação desses dois humbuckings me dava um timbre que lembrava um Pedal Steel, e claro, eu tentava reforçar isso com os controles de tonalidade. Para meu azar, o Seymour Duncan morreu. Ele simplesmente parou de funcionar e técnico nenhum descobriu o motivo.

Tocávamos muito em um bar chamado General Lee, que ficava em Cabo Frio na região dos lagos, no Rio de Janeiro e lá fazia um calor infernal. Em uma noite eu praticamente derreti em cima da guitarra e ela literalmente tomou banho de suor. Nesta mesma noite, este humbucking ficou estranho e eu tive que usar outra guitarra. Na noite seguinte ele funcionou normalmente e não pensei mais no assunto. Dias depois, em casa, fui ligar a guitarra e som nenhum saiu dele...estava morto.

Levei em pessoas que mexiam com captadores e nenhuma delas conseguiu desvendar o mistério. A explicação que tenho, é que ou arrebentou algum fio da bobina em seu interior, ou o suor que entrou nele oxidou algo lá por dentro ...era daqueles humbuckings onde as bobinas ficam expostas. Como o Gibson tinha a capa de metal, com ele não rolou nada. Tentei dois outros humbuckings mas não consegui mais o timbre que me agradava e como parei de tocar country, não vi mais necessidade de procurar ou comprar outro Seymour Duncan do modelo que se foi..enfim..de investir nisso. Troquei o Gibson 57 por um Gibson P90 com um amigo e a Tele virou instrumento de testes, como mencionei anteriormente.

Fora esses meus poréns, a Gibson é um instrumento maravilhoso, que tem um braço fácil e delicioso de se tocar, um acabamento fora de série, e é claro que eu gostaria de ter vários modelos, nem que fosse apenas para ficar adimirando-as. Para não dizer que sou completamente arredio as Gibsons por causa dos humbuckings, existem as Firebird que tem uma sonoridade digamos, mais Fender, o que acredito seja cortesia dos mini humbuckings que elas usam..além de eu gostar muito do visual delas.

E as Fender? Eu gosto de tudo na Fender Stratocaster.  A Strato para o meu som, meu conforto e sem contar que continuo achando a guitarra mais bonita e perfeita (pelo todo) já inventada, é meu Edem...não preciso de outra..a não ser outras Stratocasters.

Timbre e partes da guitarra


   
O bom som e o seu som de guitarra, é uma combinação de coisas e que vão além da guitarra em si. Mas por hora, fiquemos na guitarra.

A madeira do corpo por exemplo.: Existem várias madeiras utilizadas. Nenhuma te dará uma mudança tão drástica de timbre, sustain.. mas é claro que alguma mudança terá. No meu caso, talvez pelo hábito de usar por tanto tempo uma Fender em Alder, para o meu timbre e gosto é a madeira que me soa melhor. O Ash é bacana também, mas me falta algo. O Mogno funciona lindamente com humbuckings, mas com single-coils, nunca achei um que me soasse satisfatório. Tenho uma Tele em mogno feita por um luthier, que virou cobaia para meus testes com captadores. Tentei todo tipo de single-coils nela.

Ativos, passivos, Hots, humbucking em formato de single...Fender, DiMarzio, Seymour Duncan, marcas ignoradas.... nenhum me agradou a resposta...já com humbuckings, ela falava muito bem. Não é a tôa que a madeira mais usada pela Gibson, onde mesmo os captadores single coils, não soam como um single Fender, é o mogno.

Existem várias outras madeiras que são usadas na fabricação de guitarras, mas gosto dessas clássicas, principalmente o Alder, que me sôa balanceado aos meus ouvidos e gosto.

O braço tb diz muito em relação a timbre. Braços maple (madeira clara na escala) são brilhantes, mais agudos em relação aos de madeira escura, os rosewood, que soam mais macios, doces e menos brilhantes.


A qualidade do material usado na ponte, implica também em timbre, sustain, clareza e corte.

Um toque sobre pontes flutuantes. A Fender vem de fábrica com 5 molas. Muitos guitarristas para deixar a ponte macia e suave, retiram duas molas e as vezes três. O resultado é que ela fica realmente muito macia, mas em contrapartida, se arrebenta uma corda a afinação vai para o espaço; e se você estiver tocando ao vivo é realmente um problema. Na Fender, a forma para isso não acontecer é retirar apenas uma mola, deixando-a com 4 molas. Ela não desafinará assim e você terá a ação da alavanca mais suave. Se você usa muito a alavanca, meu conselho é colocar uma ponte estilo Floyd Rose. Me parece que ela desafina da mesma forma, caso arrebente alguma corda, mas como nunca usei uma ponte dessas, não posso afirmar que seja correto isso.


O nut, não sendo de plástico, minha preferência é pelo tradicional de osso. Existem nuts de outros materiais, mas tirando o de metal, que já usei, não tenho opinião formada. Não senti uma mudança muito expressiva do osso para o metal, mas é claro que existe, conforme o material usado.


Potenciômetros ruins tb podem alterar o timbre, deixando a guitarra com um som velado...não economize nisso pois é dinheiro,  tempo e trabalho jogados fora, sem contar que potenciômetros são baratos.


O capacitor usado no potenciômetro para timbre, também faz diferença e variações que se consegue colocando capacitores de valores que não sejam os usados normalmente, a mim nunca agradaram, então quando mexo nisso, procuro os tradicionais.


As cordas que vc usa tb atuam no timbre. Atuam em termos de peso,  volume, clareza...em um som mais magro ou mais denso (gordo), mais agudo ou mais puxado para o médio ou grave....
Existem diversos calibres e é questão de gosto e necessidade do guitarrista. No meu caso as 0.10 estão perfeitas, apesar de as vezes sentir necessidade de um som mais cheio e firme, quando uso o slide. Como uso a mesma guitarra para tocar com e sem slide, a 0.10 tem uma tensão que não me arrebenta os dedos e soa a contento. Mas calibre de cordas é de cada um. Só não aconselho abaixo de 09.

Nos anos 70, cordas eram um grande problema...a falta de opções era gritante. Conseguia-se quando muito cordas Fender e Gibson. Das Fender eu não gostava do som, além de elas durarem pouco. Gostava da Gibson que tinha uma tensão para mim, perfeita e o timbre consistente. Vc encontra variações de tensão em cordas do mesmo calibre mas de fabricantes diferentes, entre outras coisas. Uma corda mais facilmente encontrada na época, era uma Italiana da marca Galli e que vinha com uma mizinha extra de brinde. Usava 08...não sei como, até descobrir a 09 e depois definitivamente, a 010. Já testei 013 a título de curiosidade, mas eu teria que mexer em toda a regulagem da ponte, incluindo o braço, que chegou a envergar um pouco com a tensão excessiva das cordas mais pesadas. 0.11 seria um meio termo mas preferi continuar com a 010.

Um toque sobre colocação de cordas: Para a corda desafinar pouco, use-a curta. A partir da tarracha que você estiver colocando a corda, deixe sobrando uns três ou quatro dedos e corte a sobra.


Captadores

Captadores fazem uma grande diferença no timbre, volume, corpo...
Existem diversos tipos e marcas e para chegar no que vc quer, só testando.
Só abandono um captador depois de comprovar que o mesmo não vale um tostão furado, mas antes disso faço bastantes testes com ele. Passei a pensar assim, depois que descobri que um determinado captador que eu tinha, soava um lixo em madeiras normais e depois me surpreender com ele em uma guitarra vagabunda que eu tive, cuja madeira acredito que fosse pinho.

Viajei na maionese e escavei a guitarra toda, fiz um tampo com um material que lembra alumínio (ou é alumínio..não sei) e é usado em cases. Minha idéia é que ela soasse meio como um dobro. Funcionou melhor ainda..ficou um misto de dobro com violão e o tal captador vagabundo traduziu isso de uma forma que nenhum outro que testei depois, captadores bons e de marca, conseguiram reproduzir com um som tão legal quanto ele. Este captador, pasmem...era um single que eu tinha da Sound Malagoli e que era vendido avulso nos anos 70.

Infelizmente o perdi em um acidente com cola Araldite..e esta guitarra terminou indo para o lixo. Portanto...nunca subestime um captador. Dependendo da madeira do corpo da guitarra, sua construção, se é sólida, semi-acustica, sua ponte... captadores aparentemente ruins, em algumas guitarras podem soar lindamente. Já alguns, são ruins mesmo e aí não tem santo que dê jeito.

Primeiras timbragens



Desde que me lembro, sempre tive minha atenção voltada para os timbres das guitarras. Se ouvia algum guitarrista cujo timbre não me agradasse, geralmente perdia o interesse em continuar ouvindo, exceto se o tal guitarrista tivesse algo além, apesar do timbre feio. Minha gana por isso cresceu e me fez ficar ligado nos detalhes. Aos poucos fui percebendo que muita coisa envolvia ter uma boa timbragem.

Primeiro reparei no que o guitarrista fazia, como ele tirava os sons...até então, para mim era basicamente ele e a guitarra. Em 1970, conhecia uma ou outra banda de rock e muito do pop da época e da decada passada. Em 1971, motivado pelo som do Santana, comprei um bongô. Aprendi apenas uma música e larguei de mão.  Atravéz de um amigo de infãncia (Ivon Azambuja) e que também estava começando a se interessar em tocar, aprendi meus dois primeiros acordes...da mesma música do Santana que eu tentava tocar no bongô. Um mi e um la..só tinha isso na música. Santana não foi uma influência para mim, apenas um acaso. Em seguida arrumei meu primeiro violão. Na casa deste mesmo amigo, atravez de seu irmão mais velho, Wilson, que era meio hippie e estava antenado no que acontecia e também atravez de meu irmão mais velho, eu ia conhecendo novas bandas.

Foi na casa desse amigo que ouvi pela primeira vez Rory Gallagher, e não poderia ter sido de forma melhor. Seu disco Live In Europe havia acabado de sair, ele havia sido eleito o músico do ano pelo jornal Melody Maker e o melhor guitarrista de 1972. No começo de 1973 estava com minha primeira guitarra, que consegui trocando por minha última prancha de surf. O disco do Rory tinha sido como uma janela se abrindo para mim e me lembro degustando e absorvendo a guitarra de Messin with the kid, prestando atenção em cada detalhe do solo do meio. Ali percebi que aquele monte de variações nas notas, eram basicamente criadas pelas mãos dele. O uso da palheta, harmônicos, abafamentos, picados, modulações no som...uma coisa foi me levando a outra e a percepção ia aumentando, na medida que ia aprendendo como reproduzir aqueles detalhes e via que tinha mais coisa ali do que eu pensava.

Reparei que Rory as vezes fazia soar notas como se elas tivessem um wha-wha natural. Rory usava também um recurso deste tipo, mas usando o potenciometro de tonalidade da guitarra para fazer este efeito. A outra forma com que ele fazia isso, não era tão clara, mas observando e por tentativa e erro, descobri que aquelas modulações estavam totalmente ligadas a palhetada, a timbragem no amplificador, que precisava de um certo nível de saturação e que em algumas regiões do braço elas soavam mais fáceis. Como tive sorte com meu primeiro amplificador, que mesmo com pouquíssimos recursos timbrava lindamente e com o volume no talo saturava, cheguei próximo do que ouvia o Rory fazer. Claro que isso foi com o tempo. Algumas descobertas vem as vezes por acaso e acende uma luz em você..."ahhh, é assim que ele faz", "opa, que isso? Consegui tirar aquele som..." E você vai percebendo também o que precisa para conseguir esses sons.

Rory Gallagher foi fundamental para mim, inclusive por me permitir entender outros guitarristas..como foi o caso do Jimi Hendrix, que eu já conhecia mas sua guitarra genial estava além do que eu poderia entender, até então. A medida que fui aprendendo coisas, não só com ele, mas também com o monte de outros guitarristas que ia conhecendo ou redescobrindo, como o Hendrix, minha curiosidade em relação a guitarra, o que tinha dentro dela, a imensa variante de timbres que eu ouvia...só foi aumentando. Uma coisa levou a outra e comecei a fazer alguns testes, para ver se conseguia alguma alteração no timbre da minha guitarra, algum ajuste em algo que eu sentia não ser legal nela...ia fazendo por tentativa e erro. Errava mais que acertava mas tudo certo. Por sorte minha, esta guitarra tinha uns captadores estilo soap bar e soava realmente quente, daí que ela respondia bem as experiências que eu tentava.

As vezes só temos uma guitarra, que pode ser um excelente instrumento ou um instrumento não tão bom assim, mas que é o que você tem no momento. Nunca tive pena em esmiuçar uma guitarra e nem sou um purista daqueles que acha um sacrilégio alterar um instrumento, seja ele vintage, novo, velho... sempre me importou a funcionalidade dele e as alterações que fiz e faço, são sempre buscando uma determinada sonoridade, ou para tentar suprir alguma deficiência que o instrumento tenha e que me incomoda, ou me falta. Ficar trocando de guitarra nunca foi a minha, exceto se você tem comprovadamente um pau de cordas na mão, aí não vale a pena tentar transforma-la em algo decente.

Daí que as respostas que tive com meus experimentos vida a fora, me fizeram chegar a algumas conclusões. Não sou dono da verdade e é claro que certas coisas funcionam para mim, para outros pode ser que não, tudo depende da resposta que cada um tem e de suas espectativas em relação aos testes que faz.

Minha primeira guitarra, uma Giannini Gemini, foi praticamente desconstruida por mim. Meu primeiro violão, e o segundo também, foram pelo mesmo caminho. Não pense que sou um louco destruidor de guitarras e violões. Sempre que me aventurei a tentar fazer algo, foi buscando alguma mudança que na teoria funcionava e na prática.. bem, algumas vezes não funcionava. Já me arrependi algumas vezes, mas ainda prefiro acreditar na máxima "tentativa e erro" pois podemos ter belas surpresas.

Experiências

Pulando os tempos, no  final dos anos 80 estava querendo ter um peso maior nos agudos de minha Strato e imaginava que colocando um humbucking na ponte eu conseguiria isso, uma vez que via gente usando com essa finalidade. Mas não queria perder o single coil da ponte também. Não pensei duas vezes. Comprei um humbucking PAF da DiMarzio e escavei a madeira, de modo que coubessem os dois pick-ups. Luthier naquela época continuava não sendo muito fácil de se achar. Eu conhecia apenas alguns velhinhos donos de lojas e que faziam pequenos ajustes, mas não eram exatamente luthieres e também nem sabia se eles ainda estavam vivos.

Sendo assim, peguei um formão e outras ferramentas menos nobres e escavei a vítima. Ficou uma porcaria o acabamento, mas para o que eu queria fazer estava perfeito. O problema seria o pick guard, pois naquele tempo, não tinha como hoje peças de reposição a venda nas lojas. Fiz o que? Cortei o escudo.

Fiz o buraco para o humbucking, junto com o single coil original da Strato, que passou a ter um ãngulo reto como os outros single coils. Precisei também botar uma chave extra para o humbucking e as variações que ele me daria. Não era um expert em parte elétrica, mas por estar acostumado a fuçar e com o esquema do DiMarzio ajudando, fiz as ligações.

Ficou uma lambança a fase do humbucking em relação a fase dos singles, mas ao mesmo tempo consegui uma gama de timbres novos e interessantes. Por algum motivo, atravéz do potenciômetro de volume também conseguia sutis variações de timbres e descobri que quando eu o abaixava ao redor do 7 ou 8, tinha o humbucking sozinho e conforme a posição da chave, em série ou paralelo.

Ficou perfeito, exceto que em pouco tempo descobri que não era um grande fã de humbuckings e o resultado é que ele ficou ali apenas como enfeite (um enfeite feio, diga-se de passagem) pois descobri que ao vivo, as variações com os single-coils não soavam assim tão bem e o humbucking sozinho não era exatamente o meu timbre. Para gravações, as combinações humbucking x single, soaram muito interessantes pela gama de timbres, mas ao vivo, em volume alto, não. Me arrependi principalmente em ter cortado o pick-guard original da Strato, mas são ossos do ofício.

De resto, tentei algo que funcionou mas não exatamente como imaginava. Mas de que forma eu saberia, não tendo uma outra guitarra para servir de cobaia e nem tendo como hoje, internet para buscar informações?